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O Sentido do Trabalho

Homem de óculos com a mão direita sobre o queixo, com expressão reflexiva.

Como lidar com o Sentido, ou a falta dele, no ambiente organizacional?

Por André Martin Marquez Ventura – Psicólogo, Logoterapeuta e Especialista em Psicologia Fenomenológica e Existencial.

Uma das ocupações que nos dedicamos por mais tempo em nossas vidas é o trabalho. Inicialmente é importante destacar que Viktor Frankl, o fundador da logoterapia, já posicionava o homem como um ser em busca de sentido, portanto, é natural que busquemos por sentido em qualquer área de nossa vida, inclusive no âmbito profissional. Dizia também que o sentido não é algo que se é dado por alguém, mas, sim, encontrado, e essa busca é essencialmente individual e subjetiva.

Encontrar propósito no trabalho, assim como na vida, envolve um processo de profunda reflexão. Uma das reflexões possíveis para encontrarmos sentido é olhar para o trabalho ou para sua profissão como oportunidade.

O trabalho pode ser uma oportunidade de dar algo de nós ao mundo, entregar algo que realmente faça a diferença na vida das pessoas. Todo esforço e energia demandado em favor do próximo, por motivações transcendentes, gera valor, que pode ser intelectual, ético, moral ou espiritual, elevando-nos de alguma forma.

Trabalhar também pode ser uma forma de autoconhecimento, de descoberta de nossos talentos, habilidades, capacidades e de superação de nossos próprios limites.

O trabalho também pode ser uma oportunidade de nos relacionarmos com a comunidade, de vivenciar e pôr à prova nossos valores de responsabilidade, solidariedade, lealdade, entre outros.
Podemos encontrar sentido no trabalho quando percebemos que ele significa muito mais que receber um salário pelo serviço prestado, pela influência, status ou prestígio que ele possa promover.

É possível encontrar no trabalho uma oportunidade para amar e gerar novos vínculos, sejam eles de amizade ou fraternidade.

Outra possível reflexão sobre como encontrar sentido no trabalho é por meio da forma como lidamos com nossa realidade concreta, nosso dia a dia.

Podemos encontrar sentido no trabalho por meio da compreensão de como articulamos o que conhecemos por “dom”, “chamado” e “circunstância”.

O dom é a facilidade que temos, de forma natural, para realizar alguma atividade. O chamado é a convocação do coração, aquilo que o aquece, que nos vemos fazendo. A circunstância é a realidade que nos encontramos no momento.

Pense comigo, se temos o chamado, por exemplo, mas não temos o dom nem a circunstância favorável, então o chamado automaticamente muda de nome, e se transforma em “fuga”.

Portanto, não podemos desprezar a circunstância na qual estamos instalados e devemos refletir sobre os perigos dessa supervalorização do chamado, ou seja, de forma prática, não podemos dar tanto valor para essa ideia repetida por muitos: “Você tem de fazer o que você ama”.

Acredite, o que contribui muito para nosso amadurecimento são justamente essas restrições de possibilidades, e, compreendendo e aceitando isso, teremos melhores condições de encontrar sentido em nosso ofício, ou seja, “temos de fazer o que faz sentido para nós, dentro de nossas possibilidades e realidade concreta”.

Situar-se na realidade concreta, não se rebelando, é essencial para o desenvolvimento e fortalecimento de nossa personalidade. Essa compreensão de que dificilmente haverá a presença do dom, do chamado e da circunstância simultaneamente é a chave para ações eficazes na vida e que poderão favorecer o encontrar do sentido em nosso trabalho.

Nessa busca por sentido, devemos avaliar o que está falando mais alto, o dom, o chamado ou a circunstância, e orientarmos nossas ações com base nessa avaliação.

Outra forma interessante de buscar sentido no trabalho é justamente a reflexão acerca dessa questão: Trabalho existe para te dar prazer?

“O importante é trabalhar com o que você ama”. Insisto, essa ideia, geralmente mal compreendida, promove no imaginário popular uma incompreensão acerca da natureza do que é “trabalho”.

Como já elaboramos, além de permitir a nossa subsistência e a de quem amamos, o trabalho pode ser a oportunidade de fazer a diferença na vida das pessoas, elevar-se enquanto ser humano, uma forma de autoconhecimento, de descoberta de nossos talentos e habilidades, de se relacionar com a comunidade, de vivenciar e pôr à prova nossos valores, e, antes de tudo, trabalho é serviço, dedicação, esforço. É melhorar a vida do outro e não especificamente para nos dar prazer.

Pensemos, por mais que gostemos de determinada atividade, é fato que, inevitavelmente, assim que começar a trabalhar com ela, incômodos e adversidades vão aparecer. Se o prazer for nossa bússola, não vamos parar em trabalho algum. Com o “sentido” nos orientando, isso não acontece, pois faremos o que for preciso, lidando melhor com os incômodos e adversidades.

De forma simples, poderemos encontrar o sentido do trabalho no nosso aperfeiçoamento pessoal, na diferença que fazemos na vida das pessoas que dependem dele e daqueles que trabalham conosco, porém não apenas buscando o prazer.

É somente servindo de fato, sendo útil, que encontraremos sentido no trabalho, ou na nossa profissão. Haverá dias que iremos sentir prazer no que fazemos, outros não, porém o sentido poderemos encontrar todos os dias.

O trabalho deve funcionar como um espaço de desenvolvimento existencial, pois a vida espera algo de nós e o trabalho é um dos lugares que podemos dar essa resposta, com compromisso e responsabilidade.

No seu trabalho, não busque o prazer; busque o sentido.

 

Gostou? Leia também O que será do mundo do trabalho após a COVID-19?

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