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Conteúdo nas redes sociais e Psicologia: cuidados éticos

A imagem mostra uma jovem mulher de cabelo cacheado e expressão amigável, aparecendo no centro da tela de um smartphone, que está sendo utilizado para gravar um vídeo. Ela segura uma placa vermelha com as palavras "LIKE & SUBSCRIBE" (Curtir e Inscrever-se), típicas de criadores de conteúdo incentivando a interação do público. O cenário é uma cozinha organizada, com prateleiras decoradas com plantas e utensílios domésticos ao fundo. O celular está montado em um suporte com um anel de luz, equipamento comum para gravação de vídeos profissionais. A imagem retrata a produção de conteúdo nas redes sociais, um fenômeno atual amplamente utilizado por profissionais, incluindo psicólogos. Ela ilustra a necessidade de cuidados éticos na divulgação de informações sensíveis e na construção de audiência.

por Elaine Cristina Gomes de Moraes

Foi-se o tempo em que as redes sociais eram ferramentas para uso pessoal. Como já explicava José Luiz Braga, em 2012, quando surge uma tecnologia, é porque já havia uma demanda latente, mas conforme vai sendo utilizada, ocorre um deslocamento do uso inicial para outros contextos.

E isso fica muito claro com relação às redes sociais, cada vez mais pessoas e organizações a utilizam para divulgar conteúdos relevantes, como produtos e serviços.

Isso tudo traz visibilidade, considerando, sobretudo a abrangência dessas redes. De acordo com os dados do relatório realizado em parceria entre We are social e Meltwater em 2023, no Brasil são 152,4 milhões de usuários de mídias sociais em janeiro de 2023 (Kemp, 2023).

É cada um buscando seu espaço para ser visto e lembrado. Profissionais de diversas áreas têm se apropriado desses espaços, inclusive psicólogos, para criar conteúdo e divulgar seu trabalho.

No entanto, é preciso tomar alguns cuidados éticos no uso das redes em publicações de conteúdos associados à Psicologia, não apenas no sentido de acatar as Resoluções e Código de Ética Profissional do Psicólogo (CEPP) do Conselho Federal de Psicologia (CFP), mas pelo propósito maior da profissão: a outra pessoa (cliente ou paciente, ou seja, aquele que busca o psicólogo).

Então, vamos entender um pouquinho do que é essa produção de conteúdo nas redes e o uso ético por psicólogos.

 

O que é o Marketing de Conteúdo?

Tudo na internet é conteúdo, seja uma imagem ou um texto. É algo que se pretende informar e que gera resultados, positivos ou negativos.

O conteúdo pode inspirar e entreter, pode ajudar na tomada de decisões, pode gerenciar expectativas, pode significar mais visitação através de buscas e recomendações sociais e pode, por fim, fidelizar clientes e leitores (Rez, 2016). A produção de conteúdo atualmente é feita por leigos, profissionais e, principalmente por empresas especializadas em marketing.

Mas vamos começar pela definição; afinal, o que é esse tal marketing de conteúdo? De forma geral, “significa produzir conteúdos relevantes para o seu público, como forma de o ajudar a esclarecer as suas dúvidas, a atrair potenciais clientes ou simplesmente a fazer de si uma autoridade num determinado nicho de mercado” (Faustino, 2019, p. 44).

Desenvolvido profissionalmente, o marketing de conteúdo se dirige a um público específico a fim de apresentar conteúdos relevantes e se aproximar, interagir, e acima de tudo, considerar os interesses e expectativas para com esse público.

Porém, é muito comum que o próprio usuário da rede crie conteúdos profissionais e os divulgue em suas redes. Quanto a isso, está tudo bem também, mas é preciso lembrar que o que é publicado pode ficar eternizado, podendo ser compartilhado e comentado, e diz muito sobre quem publicou.

Tudo isso vai construindo a imagem do autor, a forma como a pessoa (ou o profissional) é percebida por aqueles que consomem tal conteúdo.

Produzir conteúdos profissionais nas redes sociais pode atingir uma grande audiência, é comum a produção de dicas de determinada área com informações relevantes, que atraiam a atenção e, consequentemente, capte novos seguidores. Cada vez mais os profissionais fazem isso, inclusive da área da Psicologia. Com isso, os desafios: como publicar conteúdo mantendo a ética profissional?

 

A ética profissional

Não se trata de censura, mas é preciso um olhar mais amplo para os cuidados com as redes sociais e a publicação de conteúdo. No caso da Psicologia, o CFP publicou uma Nota Técnica (NT nº1/2022) sobre o uso profissional das redes sociais, no que se refere à publicidade e aos cuidados éticos.

No entanto, considerando a essência da profissão, sobre o que o próprio CEPP determina, torna-se evidente a responsabilidade do psicólogo sobre o conteúdo que produz e os impactos que pode causar no leitor. Desde a graduação, o Código é discutido e interpretado para que seja aplicado, e isso tudo já começa na preparação para o futuro psicólogo.

Vale lembrar que a ciência psicológica lida diretamente com as vulnerabilidades psicológicas dos indivíduos e a capacidade e comprometimento ético do psicólogo devem ser premissas para a atuação profissional, incluindo o uso das redes sociais.

Tem-se, então, o desafio ético: a produção de conteúdo profissional deve estar fundamentada na ciência psicológica e, como determina a Nota Técnica, as práticas que apresentem divergências com a ética profissional devem estar separadas dos serviços de psicologia para não induzir usuários e a sociedade a entendimentos equivocados sobre a profissão.

Outro ponto importante a considerar: há uma linha tênue entre o comportamento ético, de criar conteúdos informativos que proporcionem esclarecimentos sobre a prática psicoterapêutica, e o ímpeto do profissional em produzir conteúdos que priorizem o aumento de sua visibilidade nas redes.

Não há, na Psicologia, “curas milagrosas” nem associação a outras práticas terapêuticas, que em nada se vinculam à ciência psicológica. É fundamental o cuidado para não induzir os usuários da rede a uma visão distorcida da profissão.

Por fim, as redes sociais constituem uma forma democrática de expressão, de compartilhamento de informações relevantes e de aproximação entre pessoas. Elas também contribuem para a construção de uma imagem positiva do psicólogo, favorecendo a divulgação de sua prática profissional responsável, sempre pautada nos princípios fundamentais do CEPP.

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Referências

Braga, J. L. (2012). Circuitos versus campos sociais. In: Mattos, M. A., Junior, J. J., Jacks, N. (Orgs.). Mediação & Midiatização (p. 31-52). Salvador: Edufba; Brasília: Compós,.

Conselho Federal de Psicologia (Brasil). Nota Técnica nº. 1 de 2022. Nota Técnica sobre Uso Profissional das Redes Sociais: Publicidade e Cuidados Éticos.

Faustino, P. (2019). Marketing digital na prática: como criar do zero uma estratégia de marketing digital para promover negócios ou produtos. DVS Editora.

Kemp, S. (2023). Digital 2023: Brazil. Datareportal. https://datareportal.com/reports/digital-2023-brazil.

Rez, R. (2016). Marketing de conteúdo: a nova moeda do século XXI. DVS Editora.

Elaine Cristina Gomes de Moraes

Doutora em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e Mestre em Comunicação pela mesma instituição. Especialista em Gestão de Pessoas e Sistemas de Informação pelas Faculdades Integradas de Bauru (2010) e graduada em Comunicação Social Habilitação em Relações Públicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Docente dos cursos de graduação e pós-graduação das Faculdades Integradas de Bauru. Atualmente é graduanda em Psicologia pelas Faculdades Integradas de Bauru.

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