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Existe Inovação sem Divergência?

Inovação é um assunto que, na última década, se tornou a grande palavra-chave do mercado corporativo, apesar de ser um conceito bem antigo. Nos anos 50, Schumpeter, economista austríaco, já explorava o conceito de “destruição criadora” e a capacidade de inovar como algo inerente ao verdadeiro empresário.

Muitas organizações embarcaram nessa onda com diversos modelos e, sem dúvida, algumas obtém relativo sucesso, mas se olharmos bem, as grandes inovações não saem dessas empresas, e sim dos pequenos empreendimentos (startups).

A reflexão que quero trazer neste artigo é o quanto estamos abertos ao diferente, mais especificamente ao conceito neurodivergente, e como isso impacta no processo cultural da inovação.

Neurodiversidade é um termo cunhado no final dos anos 90 por Judy Singer:

“A biological truism that refers to the limitless variability of human nervous systems on the planet, in which no two can ever be exactly alike due to the influence of environmental factors.”

 

É um termo que se refere a toda a humanidade e que traz, fundamentalmente, o conceito de que as diferenças do sistema nervoso são base para o nosso desenvolvimento como sociedade, e que essas diferenças não devem ser tratadas como doenças (em tempo, Judy Singer é autista).

Ainda usando dos termos, podemos falar em neurodivergentes (e aqui incluímos os grupos com dislexia, discalculia, disgrafia, TDAH, autismo, dentre outros) e os neurotípicos, aqueles que apresentam um desenvolvimento considerado “normal” pela sociedade.

As aspas aqui são necessárias pois a definição de normal por si só é relativa pois depende do ambiente, da sociedade e de outros diversos fatores.

Mas vamos voltar a nossa discussão inicial. Por que é importante olhar isso sob a ótica de inovação? Vejam esse dado sobre dislexia:

“In a survey of 69,000 self-made millionaires, 40% of entrepreneurs were found to show signs of dyslexia.”

 

Por outro lado, como as empresas se preparam para receber os neurodivergentes?

“LinkedIn recently recognized ‘dyslexic thinking’ as a skill. Its more than 800 million members now have the chance to add this to their profile…One in five people are dyslexic, and 78 per cent of them believe recruitment processes put them at a disadvantage. The recruitment process just isn’t designed for dyslexic thinking.”

 

Em conversas com diferentes empresas (nada quantitativo, mais qualitativo) onde vejo processos de inovação bem desenhados, mas não andando na velocidade mais adequada, começo a me perguntar se não temos uma questão a ser tratada na raiz.

Questionando sobre como o diferente entra na inovação, o que escuto remete sempre ao velho conceito de equipes multidisciplinares – disciplinas diferentes, mas pessoas iguais. Os processos de seleção, por mais criteriosos que tentem ser, acabam normalmente no velho “fit com a nossa cultura”.

E os filtros iniciais são de testes que simplesmente eliminam de cara a maior parte dos neurodivergentes (tempo, lógica). E ao final não podemos negar que a empatia é sempre um quesito forte. E o que é empatia?

“capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende etc.”

 

Diversidade hoje é tratada no âmbito do gênero, o que já é um grande avanço, mas não no pensamento. Devemos continuar trabalhando com os iguais para tentar fazer diferente? Quanto estamos deixando de lado e segregando toda uma camada da população de alto potencial?

Os mais otimistas podem até achar isso bom pois serão os futuros empresários de sucesso, mas… sim, há um mas:

“…the prevalence of dyslexia in prisoners is … 48%”.

 

Esse é um alerta não necessariamente para o mundo corporativo, mas a segregação leva a desigualdade de oportunidades, isso é fato.

Olhem essas características:

  • Muita dificuldade em se manter focado em coisas desinteressantes;
    Se distrai fácil;
  • Inquietude (mexe muito os membros, por exemplo);
  • Faz as coisas bem e de modo rápido quando está em cima da hora.

 

Ruins ou boas? Depende do olhar, não? São características de quem tem TDAH. Há pouco tempo um colega me relatou que um par seu está com risco de ser desligado da empresa por não se adequar às normas, mas que ele é brilhante nas ideias.

Conversando vimos que muito provavelmente ele tem TDAH… e ficam tentando o manter em reuniões intermináveis!

O que Einstein, Leonardo da Vinci, Picasso, Spielberg e Steve Jobs tem em comum? Todos são disléxicos. Sim, provavelmente sua empresa os reprovaria na seleção pela demora na leitura ou por erros ortográficos.

E cerca de metade dos disléxicos carrega também a discalculia. Conhece?

“dificuldades de entender conceitos de valor, quantidade e números, sequenciar eventos, lidar com dinheiro, usar todos os passos envolvidos nas operações matemáticas, uso da tabuada, não saber usar as frações, não reconhecer padrões de adição, divisão, assim como é difícil entender conceitos relacionados a tempo, como contar dias, semanas, meses.”

 

Soa familiar? Já viu algum colega assim? Qual a chance dessa pessoa passar no famoso teste de lógica das organizações? Ou ser tachado?

Inovação, sob o meu ponto de vista, vai além da questão da sobrevivência das empresas. Pode ser um movimento de mudança cultural muito forte. Ao pensarmos em inovar devemos tratar de questões básicas como entender o que é um problema real.

Entender esse problema sob a ótica do outro. Precisamos pensar fora da caixa para visualizar alternativas. E isso só é possível ao abraçarmos as diferenças. É trabalhar com aquele que nos incomoda, que nos desafia. É compreender diferentes realidades.

Inovação depende da divergência e há um arsenal de pessoas esperando pela oportunidade certa! Mas atenção: muitos nem ensino superior conseguem ter pois o famoso vestibular os elimina. Algumas universidades já estão dando mais tempo aos disléxicos, mas não abrem o uso de uma calculadora para quem tem discalculia. Afinal, TODAS as pessoas no meio corporativo fazem contas de cabeça, não?

E, caso queira conversar sobre inovação e divergência, não hesite em me dar um alô!

 

Celso Roberti

Instituto Domlexia
celso@domlexia.org.br

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1 Comment

  1. Dra. Olzeni Ribeiro

    Olá, Celso! Você eo autor do artigo? 😉 Eu corri aqui para ler quando vi mencionar os neurodivergentes e inovação. Quando li, ignorou a superdotação que é uma neurodivergência. O Brasil está bem atrasado nos avanços da Neurociência acerca desse conceito. Poderia ter acrescentado às outras condições, a condição de superdotado 🥰♥️

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