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Impactos do uso de telas entre crianças e adolescentes

por Patricia Liebesny Broilo e Amanda Borges Fortes.

Um garoto com um notebook e uma garota com um tablet e um fone de ouvido gamer.

Impactos do uso de telas entre crianças e adolescentes durante a pandemia: o que já sabemos?

Quando abordamos o uso de computadores, smartphones, internet e recursos associados, especialmente envolvendo crianças e adolescentes, as discussões costumam girar em torno de como limitar e controlar o acesso. No entanto, com as medidas para conter a pandemia da Covid-19 ao longo de 2020 e ainda vigentes em algumas regiões, o uso de telas aumentou significativamente.

Não sabemos se os novos hábitos, como os trabalhos on-line com colegas da escola ou as conversas de vídeo com os avós que moram longe, serão mantidos. Mas a duração prolongada da pandemia torna importante entendermos os impactos já observados dessa vivência.

Por exemplo, estudos conduzidos durante o fechamento das escolas apontaram associações entre a interrupção repentina da rotina diária e do convívio com os pares com dificuldades cognitivas e emocionais.

Ademais, a transição das atividades escolares para a modalidade remota reforçou desafios relacionados às desigualdades sociais e à problemática da desinformação. Em paralelo, experiências positivas no uso das tecnologias da informação e comunicação também foram evidenciadas, com destaque para a possibilidade de interação social e para a exploração de atividades novas.

Apesar de a faixa etária e as características individuais interferirem nesse quadro, o uso de telas parece ter funcionado como facilitador de resiliência. Em outras palavras, a necessidade de adaptação às circunstâncias, levando ao aumento do uso dessas tecnologias entre crianças e adolescentes, ocasionou algum grau de turbulência cognitiva e emocional, mas também propiciou crescimento.

A esse respeito, cabe atentar para outro conhecimento baseado em pesquisa e verificado em estudos conduzidos durante a pandemia: o papel determinante da conversa com os pais, inclusive acerca dos conteúdos acessados através das telas.

Com esse enfoque, note-se que o processo de construção de identidade e visão de mundo já não ocorre em meio à família e os pares, mas passa a abranger os diversos conteúdos disponíveis on-line, como referências em potencial nessa trajetória.

No momento em que escrevemos este texto, em novembro de 2021, a possibilidade de novas ondas epidêmicas continua em pauta, enquanto atividades presenciais e à distância se misturam em práticas híbridas. Diante desse cenário, ao se tratar do uso de telas entre crianças e adolescentes, os aprendizados até aqui nos sugerem novos olhares sobre as orientações pré-pandemia:

  1. Verifique a compreensão sobre os cuidados de uso. As rápidas inovações tecnológicas, o aumento da acessibilidade e a tecnologia como necessidade fragilizam a imposição de limites e o controle; o pleno entendimento dos cuidados torna-se fundamental para propiciar responsabilidade junto com a autonomia.
  2. Não subestime o (des)conhecimento. Procure responder questionamentos ou demandas não relatadas, levando em conta as capacidades nas diferentes etapas do desenvolvimento; converse sobre informações que geram incertezas e concepções possivelmente equivocadas.
  3. Identifique as particularidades individuais e da situação. O dia a dia configura-se cada vez mais integrado on-line/off-line, porém as individualidades prevalecem; é imprescindível compreender o funcionamento particular de cada criança e adolescente ao transitar nesse universo.
  4. Revise orientações centradas na intensidade de uso. As horas ou horários de uso são excessivos quando interferem na funcionalidade diária e na qualidade do desenvolvimento; mais do que o “quanto”, cabe atentar para o “como” as tecnologias estão sendo utilizadas no cotidiano.
  5. Não exclua as telas. Em vez de solicitar para que desliguem o celular ou diminuam o volume, que tal sugerir que contem o que estão acessando e suas percepções a respeito desses conteúdos?

 

Em última análise, como profissionais da área da Saúde, Educação, pais/mães ou responsáveis, precisamos olhar além dos problemas e dificuldades. É nosso dever atentar para os riscos e, também, para as oportunidades inerentes ao aumento do acesso às tecnologias, a fim de promover comportamentos saudáveis. Sob essa perspectiva, vale uma pausa para reflexão: como está o seu uso das telas?

Referências

Broilo, P. L. (2021). Impactos do uso de tecnologias digitais entre crianças e adolescentes na conjuntura da pandemia da Covid-19. 10º Congresso Brasileiro de Avaliação Psicológica do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP).

Lisboa, C. S. M., Broilo, P. L., & Verzoni, A. (Orgs.). (2021). Psicologia clínica: práticas contemporâneas. São Paulo, SP: Vetor.

Sobre as autoras

Em colaboração com o Grupo de Pesquisa Relações Interpessoais e Violência: Contextos Clínicos, Sociais, Educativos e Virtuais (RIVI) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), as autoras têm desenvolvido uma série de estudos sobre o uso habitual de tecnologias da informação e comunicação associado à saúde mental e o bem-estar dos indivíduos.

 

Patricia L. Broilo é Psicóloga (CRP 07/24746) graduada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), possui Pós-Doutorado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Especialização em Neuropsicologia pelo Instituto de Ensino, Pesquisa e Atendimento Individual e Familiar (InTCC).

Amanda B. Fortes é Psicóloga (CRP 07/27186) graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), possui Mestrado em Psicologia Clínica pela mesma instituição e Especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental pela Wainer Psicologia.

 

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