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Impulsividade e a EsAvI

por Ester Borges de Lima Dias

Homem com expressão de irritado, boa aberta, olhando para o smartphone que está em suas mãos.

A impulsividade pode estar mais presente no dia a dia dos indivíduos do que possa imaginar nossa vã filosofia (parafraseando Shakespeare). Em uma observação mais acurada, não é incomum encontrar ações impensadas no adolescente, jovem, adulto, independentemente do país ou sexo, produzidas nos mais variados ambientes.

Falar sobre impulsividade é entender o ser humano em sua tomada de decisões ligadas, às vezes, a instâncias controladoras quando sob comando das emoções, patologias, hábitos, vícios, enfim, fatores que podem gerar respostas impulsivas. Mascarada, pode influenciar negativamente situações que, de outra forma, não causariam danos a famílias, instituições e relacionamentos os mais diversos.

A impulsividade, segundo o Dicionário de Português Online, diz respeito à “qualidade do que é impulsivo”, citando ainda, a frase de um artigo para exemplificar a presença dela em patologias como a bipolaridadeAlterações no sono, no apetite, aumento da impulsividade, envolvimento em aventuras sexuais, excessos de conduta, uso de drogas, isolamento, gastos exagerados e agressividade são alguns dos sintomas de quem vive uma crise de bipolaridade (FOLHA DE S. PAULO, 11/10/2009).

Nessa direção, a abrangência da impulsividade alcança negativamente a saúde, as finanças, o trabalho, afeta as relações, a sociedade, entre outros contextos nos quais e o sujeito está inserido.

Numa visão científica e psicológica, Tavares e Alarcão (2008, p.19) colocam que é “(…)uma característica do comportamento, marcada por reações rápidas e não planejadas (…) ou focando preferencialmente em aspectos imediatos em detrimento das consequências a longo prazo”.

Reagir de maneira irrefletida, como já posto, sob o comando das emoções, tais como, o medo, a alegria, o nojo, exige respostas rápidas de defesa ou vazão, entendendo-se como comportamento impulsivo.

Pode ocorrer de modo positivo, como decidir fazer uma viagem intempestivamente em função de um ganho e/ou conquista e desejar dividi-la com alguém que está distante, ou no modo considerado escape, quando sob pressão da ansiedade.

Nesse particular, Teles (2018) diz que:

O cérebro da urgência raciocina de modo diferente do cérebro tranquilo. A prioridade aqui é a tomada rápida de decisão, não a reflexão e a ponderação. O tempo é um fator crítico. A pior opção é morrer refletindo, testando hipóteses mentais, calculando rotas. Em situações de risco, a conduta precisa ser instintiva e impulsiva (p.26).

Estaríamos assim usando o cérebro da urgência, que, exigido por provocações do ambiente como a correria moderna, por exemplo, se entende ameaçado adotando reações impulsivas, mais amiúde para se proteger, sobretudo em acontecimentos que exijam prontas respostas, entre esses, fatores que o sujeito considera críticos.

A parte que demanda cuidado em relação à impulsividade, é aquela que, de forma negativa e repetida afeta o fluxo da vida, gerando looping infinito ao sujeito “acometido” por ela, devendo ser entendida e mensurada para acudir o indivíduo que sofre.

No artigo Exaustos-e-correndo-e-dopados, Brum (2016) “fotografa” os tempos de globalização denunciando escravidão travestida de desempenho e sucesso ao dizer que esse indivíduo moderno quando por “(…) excesso de estímulos, informações e impulsos”, passa por mudanças porque “Modifica radicalmente a estrutura e a economia da atenção. Com isso, fragmenta e destrói a atenção.

A técnica da multitarefa não é uma conquista civilizatória atingida pelo humano deste tempo histórico” (p.6). Esse discurso conduz à percepção desse outro lado do processo impulsivo. Uma questão para reflexão e estudo é saber se estamos mais impulsivos em função desses estímulos.

Num outro momento, no mesmo artigo, a autora traz que esse indivíduo ao se perceber “ante a agudização hiperativa da atividade faz com que essa se converta numa hiperpassividade. Aderimos a todo e qualquer impulso e estímulo (destaque nosso).

Em vez da liberdade, novas coerções” (p.7). Essa fala insiste em fazer parecer que a impulsividade se dá via estímulos da vida do ativo no seu fazer social, profissional e relacional, que se percebe sobrecarregado. Enfim, o adoecimento seria evitado sem o comando desse desempenho e produtividade exigidos por si mesmo ou por terceiros.

O texto acima faz parecer ainda que a impulsividade pode se tornar hábito ditado por pressões globais com o excesso de comunicação em tempo real e o acesso contínuo ao trabalho de forma remota.

Um cuidado importante é não rotular ou confundir a impulsividade com alguns diagnósticos, com a bulimia nervosa, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) e o Transtorno da Personalidade Borderline (TPB), exigindo para essa classificação testagens dentro de um amplo processo avaliativo.

Como e quando discernir e nomear estados de impulsividade? Não há resposta simples para um questionamento assim, dada a complexidade do entendimento e pelo fato de que nem sempre esse indivíduo tem consciência de que está impulsivo a ponto de procurar socorro. A busca por ajuda a partir de demandas que podem conduzir ao reconhecimento da impulsividade, porém, acontecem e devem ser levadas a sério.

Capa do Instrumento EsAvI - Escala de Avaliação da Impulsividade Formas A e BEm um ambiente corporativo, em seleções, por exemplo, pelas razões já postas, a maneira mais viável de reconhecê-la é a partir de instrumentos cientificamente comprovados. Para tanto, Escalas como a EsAvI (Rueda, 2012) devem ser altamente consideradas, sobretudo em candidatos a cargos de confiança, ou que exijam maior tempo de aprendizado técnico, dedicação prolongada a treinamentos exaustivos, por exemplo, trainees que demandam altos investimentos das empresas e que precisam de alguma segurança a fim de minimizar esses custos no momento da seleção e/ou transição de cargos.

Percebe-se, nesse curtíssimo texto, que avaliar a impulsividade pode evitar o encurtamento de contratos de trabalho, acidentes, sobrecarga em equipes quando sujeitos que agem irrefletida e descuidadamente gerem prejuízo ou retrabalhos, evitar ainda, descumprindo prazos, dificuldades financeiras entre outros.

É nesse sentido que Psicologia Organizacional precisa se valer de instrumentos que ajudem a prever, além do que já foi citado, rotatividade, precaver-se das consequências que a ignorância de funcionários sobre o fato de ser ou não impulsivos geram para si mesmos e para suas equipes, evitando sofrimento mental desse indivíduo e daqueles que precisam lidar com esse fato, em seus quadros.

Dispor de um instrumento como a Escala EsAvI (Rueda, 2012) que avalia a impulsividade pode ser entendido como indispensável. Mensurá-la pode ajudar tanto na conscientização desse indivíduo na vida pessoal ou laboral a tomar ciência de limitações, quanto para orientá-lo a buscar o cuidado necessário.

Assim, num ganha, ganha, sujeito, empresa, são beneficiados. O indivíduo trabalhador alcançando o equilíbrio necessário e a empresa, a diminuição do turnover, além da potencialização da produtividade.

Não é demais reforçar que uma avaliação é considerada passo importante na tomada de decisões, na direção do cuidado, e só será exitosa pelo conhecimento com embasamento científico, familiaridade com o instrumento e respeito a esse sujeito que sofre.

Quando há resultado favorável (menor ou ausência da impulsividade) fornece informações para se confirmar uma posição em determinado trabalho, ou excluir hipóteses de riscos, a partir desse processo.

No extremo oposto, quando a prudência e moderação se tornam empecilho ao término de tarefas que exijam agilidade, a Escala EsAvI (Rueda, 2012) igualmente sinaliza o fato, oferecendo parâmetros para tomada de decisão.

Para além dessa escala, quando se fizer necessário, a boa prática organizacional ou clínica deve se debruçar ante uma demanda dos transtornos do impulso, para localizar o tipo dominante de impulsividade, ou a fim de decidir, seja sobre o tratamento específico, quando na clínica, na avaliação organizacional quando em seleção ou em déficits encontrados no trabalho, desenvolvimento de carreira entre outros, buscando formas concorrentes de conter

impulso e perdas maiores. O estabelecimento de objetivos e procedimentos para controle decorrente desse conhecimento é que fará a diferença na vida do sujeito. Entre tantos outros benefícios, essa mensuração favorece sua pessoalidade, respeito próprio, possibilidade de bem-estar, reconhecimento da sua capacidade de se (re)educar em face a ela.

O inverso, em caso da escolha de funções no trabalho, profissões que exijam agilidade, a percepção de vulnerabilidade, oferece compreensão de comportamentos tidos como passivos demais. Ainda se reconhece, a partir desse instrumento, o equilíbrio entre as funções avaliadas, dando segurança e confirmando a capacidade para tal e tal função, ou excluindo em diagnósticos que pareçam apontar para ela.

Referências

ABREU, T. ; HERMANO E CÓRDAS (2008). Manual clínico dos transtornos do controle dos impulsos. Artmed.

BRUM, E. (2016). Exaustos e correndo dopados. El país. <https://racismo ambiental.net.br/2016/07/04/exaustos-e-correndo-e-dopados-por-eliane-brum>.

IMPULSIVIDADE in DICIO, Dicionário online de português.
<https://www.dicio.com.br/impulsividade/>.

RUEDA, F.J.M; BATISTA, A. C. A. (2012). Escala de avaliação da impulsividade formas A e B: (EsAvI-A e EsAvI-B): livro de instruções (ed 1) Vetor Editora.

TAVARES H.; ALARCÃO, G (2008). Manual clínico dos transtornos do controle dos impulsos.
Artmed

TELES, L. (2018) O cérebro ansioso (ed.1) Alaúde Editorial Ltda.

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