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Oportunidades e desafios da psicoterapia on-line

por Graziele Zwielewski e Roberto M Cruz

Mulher no escritório, sentada, de frente para o notebook aberto, olhando para a câmera do notebook, sorrindo e acenando com a mão esquerda.

A tecnologia avançou nos últimos anos e, com ela, avançaram também as possibilidades de inovar e empreender na área da psicologia. Plataformas de atendimento remoto, dispositivos eletrônicos, comunicação integrada via web e prontuários eletrônicos passam a fazer parte do leque de oportunidades.

Para o processo de psicoterapia não é diferente: as evoluções tecnológicas trouxeram facilidades à avaliação, ao diagnóstico e ao tratamento de pacientes, exigindo que nós, psicoterapeutas, mudássemos a maneira de trabalhar, adaptando-nos à presença de aplicativos, softwares e hardwares para condução do processo de psicoterapia.

Por meio do uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC), e desde que sejam atendidos alguns critérios, é possível para os psicoterapeutas realizar sessões remotas de psicoterapia, ter acesso a supervisões de casos on-line e participar de discussões com equipes multidisciplinares de diferentes localidades.

A tecnologia possibilitou que populações mais carentes e distantes dos grandes centros urbanos e pessoas com dificuldades e restrições de mobilidade tivessem acesso a especialistas em saúde mental.

Como as sessões on-line acontecem em ambientes de maior conforto psicológico para os pacientes, isso favoreceu o acesso e a adesão ao tratamento de pessoas mais resistentes ou com dificuldades de exposição social, além de proporcionar a pessoas com perdas auditivas o benefício da interação com o psicoterapeuta por meio do uso de dispositivos eletrônicos personalizados para o processo de comunicação.

Contudo, psicoterapia on-line é um assunto que divide os clínicos, pelo fato de, além das questões éticas, faltarem materiais norteadores da prática clínica remota no Brasil e estudos robustos que comprovem a eficácia da psicoterapia por meio das TIC.

Parece simples oferecer um “bate-papo” virtual, mas a psicoterapia on-line é um serviço de atenção e tratamento de saúde que segue diretrizes, padrões éticos, exigências técnicas e competências profissionais específicas.

Respeitar a diferença cultural entre o profissional e o paciente, que muitas vezes está geograficamente muito distante, torna-se necessário para que haja conexão entre a dupla e maior humanização do processo.

Nem todas as pessoas podem fazer psicoterapia pela internet, e alguns critérios de elegibilidade do paciente para essa prática precisam ser considerados pelo profissional com respeito e ética, como o diagnóstico, comorbidades, histórico de internamento, risco de suicídio, uso de substâncias psicoativas e o suporte social e familiar desse paciente, a fim de oferecer um serviço adequado a cada perfil de paciente.

Competências tecnológicas, socioemocionais e interpessoais são imprescindíveis para o psicoterapeuta, que precisa ter uma postura diferenciada em processos de atendimento psicológico remoto.

A experiência clínica da psicoterapia presencial oferece mais habilidades para os profissionais que iniciam os atendimentos por meio das TIC, mas nem sempre os capacita para esse novo canal de atendimento.

A flexibilidade de atendimento a distância desafia os psicoterapeutas a serem rígidos com a conscientização e a ajuda aos pacientes na criação do setting terapêutico adequado, que não seja informal, como em locais abertos, cafés, etc., e que garanta segurança e sigilo. Falar com o paciente de diferentes locais pode distraí-lo com o pano de fundo e dar uma falsa sensação de falta de privacidade.

O contato por meio de ferramentas tecnológicas encurta o acesso do paciente a seu psicoterapeuta, que pode passar uma impressão de disponibilidade ilimitada, sendo necessários os limites para que se diferencie a psicoterapia como uma comunicação profissional e não social, influenciando a relação e a aliança terapêuticas e, consequentemente, a efetividade do tratamento.

O risco de não oferecer sigilo e privacidade ao paciente, a capacidade do clínico de observar o comportamento não verbal de seu paciente por meio da tecnologia e a dificuldade de demonstrar empatia são preocupações encontradas na literatura e pesquisas com profissionais e pacientes, mostrando que, apesar das inúmeras oportunidades, a psicoterapia on-line é desafiadora e requer mais competências e habilidades do psicoterapeuta do que a experiência presencial.

Até o momento, nós, psicoterapeutas adeptos ao modo presencial, precisávamos contar com nossa intuição e tentativas de acerto para lidar com os desafios do consultório remoto, pois a psicoterapia on-line ainda é um tema que divide os clínicos.

Atualmente, há algumas publicações disponíveis, como é o caso do Manual de psicoterapia on-line, publicado pela Vetor Editora, que serve como um referencial técnico científico para guiar profissionais no desenvolvimento de habilidades para o atendimento psicoterapêutico remoto.

O profissional que não se sente confortável com a prestação desse serviço e insiste em prestá-lo sem trabalhar suas limitações e preconceitos pode afetar a motivação do paciente e a eficiência da psicoterapia.

Instruir-se e capacitar-se para a prática remota é uma necessidade, pois o uso da internet é um caminho sem volta no tratamento da saúde mental, e não aderir à oferta do tratamento on-line, principalmente pelos profissionais bem estabelecidos na prática presencial, favorece que a população tenha acesso a serviços de saúde mental com profissionais inexperientes e despreparados.

Bibliografia

Cruz, R. M., & Zwielewski, G. (2021). Manual de psicoterapia on-line. São Paulo, SP: Vetor.

Manual de Psicoterapia On-Line

Manual de Psicoterapia On-Line

O Manual de Psicoterapia On-line reúne informações relevantes sobre as mudanças no campo da psicoterapia de forma didática e objetiva, colaborando para instrumentalizar psicoterapeutas na prática clínica com conceitos atualizados, recursos técnicos válidos e confiáveis e reflexões críticas sobre as perceptivas de atuação na psicoterapia on-line de forma eficaz e eficiente, baseadas em condutas éticas e nas melhores práticas.

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