por Flavia Gomes Soares
Ao falarmos de resiliência e educação, podemos entendê-las, inicialmente, como situações e ocasiões sinônimas, similares e até mesmo complementares. Entretanto, necessário se faz assimilar a complexidade de ambas e suas interfaces, para somente então compreender sua correlação.
No que se refere à evolução da educação em nossa sociedade, desde os primórdios até os dias atuais, com o surgimento das novas tecnologias e metodologias, não é possível pensar em uma sociedade justa e inclusiva sem considerar os avanços da educação. À medida que a sociedade evolui com essas novas abordagens, o acesso a conhecimentos que antes seria mais difícil ou até mesmo impossível é viabilizado. É por meio da educação sistemática que formamos cidadãos mais críticos e conscientes.
Já a resiliência, um conceito originalmente da Física que foi apropriado pelas Ciências Sociais, refere-se à capacidade de o indivíduo enfrentar as adversidades. Dessa maneira, é importante destacar que é imprescindível que a resiliência seja considerada não com base em fatores de risco ou na superação das dificuldades enfrentadas, mas principalmente diante dos fatores protetivos e emancipatórios capazes de levar o sujeto à envolução.
Assim, a partir da evolução de estudos e adoção de novas metodologias e tecnologias, a resiliância se faz presente em diversos âmbitos e aspectos na educação. Focando o ambiente escolar, essa prática permeia toda a intencionalidade das atividades, relações e avaliações cotidianas.
Ainda refletindo sobre a resiliência, podemos afirmar que esta não é uma conquista definitiva, pelo contrário, trata-se de algo que exige constante reinvenção por parte do indivíduo, de suas inter-relações e de sua comunidade, sendo ponderado e avaliado com base em seu compromisso consigo mesmo e com o outro.
Adotando práticas resilientes no cotidiano escolar, é possível proporcionar um ambiente de aprendizado que encoraja e incentiva as pessoas para a resolução de problemas e conflitos, desenvolvendo habilidades relacionais, tolerância a frustrações e conquistas.
Depois da família, a escola é o equipamento público e social fundamental e imprescindível para que crianças e adolescentes adquiram e desenvolvam competências necessárias para a superação das adversidades. Assim, saber lidar com as maneiras de fomentar a resiliência é a chave para que a educação cumpra um de seus objetivos fundamentais: formar pessoas e indivíduos responsáveis e conscientes.
Os desafios para esse fomento são inúmeros e incertos, em razão das barreiras sociais, econômicas e estruturais que afetam os sistemas educacionais em diferentes contextos. Quando citamos as regiões mais vulneráveis, esses desafios são ainda maiores e diversos. Esse contexto pode afetar diretamente o processo de ensino-aprendizagem, o que torna mais difícil as adaptações e mudanças.
Importante destacar, ainda, que para que a resiliência educacional no contexto escolar seja eficaz e eficiente, necessário se faz a capacitação de profissionais que contribuam nesse processo, tais como psicólogos e assistente sociais, para que aconteça tanto o suporte individual do aluno quanto a articulação com a rede socioassistencial daquela família, pensando também na integralidade do acompanhamento.
Atualmente, temos um contexto de alunos que enfrentam situações como a ansiedade, a depressão e os conflitos familiares, fatos estes que dificultam, muitas vezes, seu desempenho escolar e seu envolvimento nas atividades propostas. A falta de habilidade na gestão dessas crises por parte de profissionais não capacitados impossibilita a promoção de uma educação resiliente e emancipatória.
Posto isso, entretanto, precisamos pensar a escola como o local de aprendizagem, esperança e realização de sonhos. É também por meio dela que crianças e adolescentes ampliam sua visão de mundo.
Flavia Gomes Soares
Assistente Social. MBA em Gestão Pública. Pós-graduanda pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) em prevenção às violências, promoção da saúde e cuidado integral. Atua na área de infância e adolescência há 15 anos e na Educação Pública Estadual.
Referências
Antunes, C. (2003). Resiliência: A Construção de uma Nova Pedagogia para uma Escola Pública de Qualidade. (2ª ed.). Vozes.
Freire, P. (1996). Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa. (25ª ed.). Paz e Terra.
Pessoa, A. S. G., & Koller, S. H. (2020). Resiliência e Educação: Perspectivas e Práticas. (1ª ed.). Vetor Editora.