por Letícia C. Cassarotti e Letícia Martins
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem terapêutica amplamente utilizada no tratamento de transtornos mentais em adolescentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de mídias digitais. Baseada na interligação entre pensamentos, emoções e comportamentos, a TCC busca identificar e modificar padrões negativos de pensamento e comportamento, além de desenvolver estratégias de enfrentamento saudáveis e eficazes.
Na sociedade contemporânea, a internet se destaca como um dos principais meios de comunicação, permitindo a interação à distância por meio das mídias digitais e o acesso à informação, o que desperta um interesse cada vez maior, especialmente entre os adolescentes. O hábito de utilizar livremente as mídias digitais tornou-se comum nesse grupo, atingindo um o índice de 81% dos jovens de 15 a 17 anos que afirmaram fazer uso diário da internet em 2018 (CGI.Br, 2014).
Segundo Lorenzon et al. (2021, pp. 71-82), a adolescência é uma fase de transição do desenvolvimento, que inicia na puberdade e finaliza quando o indivíduo atinge estabilidade e independência (faixa etária em média dos 12 aos 18 anos), sendo o período caracterizado por mudanças físicas, cognitivas, emocionais e sociais.
Portanto, é a fase em que a sistema cognitivo está sendo desenvolvida. É durante esse período que o indivíduo desenvolve maior noção de realidade, o que influencia também nas questões de autoestima. É no período da adolescência que o indivíduo está desenvolvendo a capacidade de pensar sobre si próprio, estando vulnerável também a distorções cognitivas relacionadas a sua autopercepção.
A fase da adolescência é especialmente delicada quando se trata da exposição excessiva aos recursos digitais, uma vez que os jovens estão construindo sua identidade, autoconfiança e enfrentando questões relacionadas à autoimagem. Nesse período, eles tendem a se comparar com os outros, muitas vezes buscando atender aos altos padrões estabelecidos pela mídia. Ao longo do tempo e com uma exposição prolongada, essa pressão pode desencadear o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, como a ansiedade.
O uso prolongado de mídias digitais tem sido associado a uma série de problemas, incluindo depressão, ansiedade, baixa autoestima, comportamento agressivo e dificuldades nas habilidades de comunicação e relacionamento interpessoal. Além disso, é importante destacar que o uso excessivo de mídias digitais à noite pode afetar negativamente o sono dos adolescentes, o que por sua vez pode impactar seu humor e comportamento de forma prejudicial.
Para utilizar essas mídias de forma saudável e equilibrada, é necessário desenvolver novas habilidades e competências. Nesse sentido, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) se apresenta como uma abordagem que propõe técnicas eficazes para auxiliar pessoas que são dependentes das mídias digitais.
Entre essas técnicas, destacam-se o treino de assertividade, a sensibilização, a modelagem, métodos de relaxamento e até mesmo inovações sociais. Essas estratégias podem ser utilizadas para auxiliar no processo de readequação do uso das mídias digitais e na promoção de um estilo de vida mais equilibrado (Lemos e Santana, 2012).
A intervenção proposta pela TCC para casos de uso excessivo das mídias digitais tem como objetivo auxiliar na modificação de comportamentos desadaptativos, investigando os motivos e consequências do uso prolongado dessas mídias. Dentre diversas intervenções, podemos destacar as técnicas que têm como objetivo promover a reestruturação cognitiva, bem como o melhor manejo para as mídias digitais, visando a diminuição do uso prolongado e melhorias nas relações sociais e cognições.
É importante destacar que o uso moderado de mídias digitais pode trazer benefícios para os adolescentes, como ferramentas educacionais, comunicação e expressão pessoal. É crucial que os adolescentes aprendam a usar as mídias digitais de forma saudável e consciente, estabelecendo limites de tempo e equilibrando seu uso com outras atividades importantes, como estudo, exercícios físicos e interação social presencial.
Os pais e responsáveis desempenham um papel fundamental ao orientar e monitorar o uso das mídias digitais pelos jovens, proporcionando um ambiente seguro e saudável para o seu desenvolvimento.
É crucial que pais, educadores e profissionais de saúde estejam atentos ao uso de mídias digitais pelos adolescentes, buscando promover um equilíbrio saudável entre o uso dessas tecnologias e outras atividades essenciais, como a interação social presencial, exercícios físicos e sono adequado. As intervenções baseadas na TCC podem ser eficazes para auxiliar os adolescentes a desenvolver habilidades de gerenciamento de uso de mídias digitais de maneira saudável, contribuindo para a promoção de saúde mental.
Letícia C. Cassarotti
Psicóloga formada pela UFMS (2015), com pós-graduação em Avaliação Psicológica pelo IPOG (2018), atua na área de Avaliação Psicológica em processos de Gestão de Pessoas e Saúde do Trabalhador, bem como na capacitação em Técnicas de Exame e Avaliação Psicológica para psicólogos no estado de Santa Catarina. Atualmente, é psicóloga na Avaliar Psicologia na consultoria em Gestão de Pessoas e Avaliação Psicológica.
Letícia Martins
Formanda de Psicologia pela Estácio de Sá, com formação em Prática Clínica em Terapia CognitivoComportamental pela agência JRV, com formação em andamento em Psicopatologia pelo FLNC cursos digitais e em ABA e Autismo para Profissionais, pela RB Psicologia e pós graduanda em Neuropsicologia. Atualmente atua na área comercial da Avaliar Psicologia com testes e técnicas de Avaliação Psicológica.
Referências
Alford, B. A., Beck, A. T. (1997). The integrative power of cognitive therapy (p. 197). Guilford Press.
Beck, J. S. (2014). Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática (2ª ed, p. 414). Artmed.
Comitê Gestor da Internet no Brasil: CGI.Br. TIC Kids online Brasil. 2014: pesquisa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil. São Paulo: CGI.Br; 2015.
Gonçalves, B. G., Nuernberg, D. (2012). A dependência dos adolescentes ao mundo virtual (46(1), pp. 165-82). Revista de Ciências Humanas.
Lemos, I. L., Santana, S. M. (2012). Dependência de jogos eletrônicos: a possibilidade de um novo diagnóstico psiquiátrico (39(1), 28-33). Rev. psiquiatr. clín.
Lorenzon, A. J., Seixas, L. C., Lange, N. S., Alves, N. O., Jaeger, F. P., Carlesso, J. P. (2021). Impactos do uso excessivo de redes sociais na adolescência: uma pesquisa bibliográfica (pp. 71-82). Santa Maria.
Neufeld, C. B. (2017). Terapia cognitivo-comportamental para adolescentes: uma perspectiva transdiagnóstica e desenvolvimental (p. 527). Artmed.
Sales, S. S., Costa T. M., Gai, M. J. (2021). Adolescentes na Era Digital: Impactos na Saúde Mental (pp. 1-10).
Silva, A. A, Rodrigues, A. L, Picolo, D. M. (2018). Dependência virtual: consequências psicossociais e intervenções psicológicas (p. 1-12).
Silva, T. O, Silva, L. T. (2017).Os impactos sociais, cognitivos e afetivos sobre a geração de adolescentes conectados às tecnologias digitais (pp. 87-97).
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