Trending News

Blog Post

Artigos

Inclusão Escolar – Entrevista com Denise Martins

Cinco crianças de costas e e de frente para uma parede em branco, preparando-se para desenhar na parede.

1. O que é inclusão?

R – Inclusão é um paradigma que se aplica a múltiplos contextos, mas, de forma geral, podemos dizer que é um processo que reúne meios, ações e projetos políticos que vão combater a exclusão.

A inclusão está relacionada às diferenças de classe social, gênero, idade e de deficiência. Se buscarmos falar de inclusão de maneira geral, consideraríamos diversos grupos e a promoção de seus direitos humanos, compreendendo que a inclusão se trata de um processo histórico, cultural, relacional, processo político e, portanto, social.

 

2. Como a inclusão se aplica ao contexto escolar?

R – No contexto escolar, consideramos a inclusão como um processo que garanta a todos os alunos a possibilidade de ter acesso e permanecer na escola, como uma forma de recriar o modelo educativo escolar, que historicamente é excludente. Em relação ao contexto escolar, reafirmo a questão do desafio da inclusão, porque a escola não é um espaço à parte da sociedade, a escola é também sociedade.

Essas escolas ainda não estão preparadas para receber e ensinar os alunos com deficiência: há questões relacionadas à infraestrutura e à formação profissional da equipe, por exemplo, e, quando você pergunta como a inclusão se aplica no contexto escolar, uma das prerrogativas é que o Projeto Político Pedagógico (PPP) já deve ter bem claro o apoio técnico, administrativo e científico para atender à diversidade do alunato, porque aquela sala regular onde todo mundo aprende no mesmo ritmo, com as mesmas estratégias, da mesma forma e no mesmo tempo não se aplica – na verdade, nunca se aplicou.

As turmas homogêneas nunca existiram, nós teimávamos e ainda hoje teimamos em exigir isso, que todo mundo aprenda no mesmo ritmo, no mesmo processo, com as mesmas estratégias, e não é assim que acontece.

Existe uma diversidade do alunato e, portanto, uma diversidade de formas de aprender que requer diversidade também na forma de ensinar, o que é uma das necessidades da educação inclusiva.

Ainda é muito comum às escolas localizarem as queixas escolares no aluno. E um dos problemas que acontecem é que muitos profissionais da educação, às vezes, têm uma compreensão muito reduzida sobre a inclusão, como se ela fosse uma incorporação de um grupo restrito nas escolas regulares, e não é simplesmente incorporar um grupo, é recriar, é modificar a estrutura.

E a escola regular sozinha também não garante todos os aspectos da educação inclusiva. É uma parceria que deve acontecer com garantias sociais, parcerias com a escola comum, professores de apoio e atendimentos educacionais especializados. Tudo isso é que pode gerar garantias de aplicabilidade da inclusão no contexto escolar.

 

3. Como acontece o preparo das escolas para trabalhar com o público voltado aos processos de inclusão?

R – É necessário considerar que esse público é um público que são todos. As diferenças nos constituem. Isso, que poderia parecer obviedade, não o é. Por isso, é fundamental reconhecer as diferenças, entendendo que algumas características ou especificidades precisam de atendimentos especializados.

Quando reconhecemos essas especificidades, conseguimos incluir melhor. Levar em conta as especificidades e as diferenças é dar condições para que essas diferenças não sejam consideradas limites, mas que sejam atendidas para que o direito de aprender seja garantido.

Há uma necessidade muito grande de que o preparo das escolas já seja garantido na formação inicial do professor, mas ainda hoje há professores e demais membros da equipe que não tiveram isso na sua formação, o que é uma prerrogativa para a inclusão escolar.

Dessa forma, continua bastante desafiador a escola estar preparada para trabalhar. Mas eu reforço que nas escolas inclusivas as diferenças não devem constituir fator de exclusão, mas, sim, identificadas, valorizadas, reconhecidas e trabalhadas.

Cabe às escolas respeitarem e acolherem a diversidade humana que nos constitui: somos constituídos por diferenças, e por causa disso também devemos modificar as escolas para proporcionar o desenvolvimento de cada indivíduo, independente de suas especificidades, seus déficits e suas condições.

 

4. De que forma o profissional de psicologia colabora para o processo de inclusão nas escolas?

R – O profissional de psicologia não realiza o processo de inclusão sozinho. É importante considerar esse profissional em um contexto, em uma equipe.

Mas o psicólogo pode contribuir de diversas formas: com orientação familiar, palestras para diversas instâncias da comunidade escolar, oficinas sobre inclusão e recursos, oficinas em parcerias com o atendimento educacional especializado ou o desenvolvimento de parcerias com professores e outros educadores para favorecer a mediação dos processos de aprendizagem, os quais são complexos.

Pode, também, envolver essa equipe e os demais educadores para minimizar ou até mesmo superar essas barreiras que são vivenciadas pelos alunos no contexto escolar. Além disso, o psicólogo pode contribuir com suporte direto aos professores, quando se buscam dados relacionados à criança, às dificuldades que esses alunos estão enfrentando, investigando as variáveis que vão interferir na aprendizagem desses alunos, sugerindo e orientando mudanças para a equipe, professores e gestores.

Esse suporte direto também é salutar. O psicólogo pode, ainda, propor e desenvolver estratégias e planos de intervenção interdisciplinar, envolvendo aquela equipe da escola e a equipe que assiste o aluno em clínicas.

Desenvolver estratégias e planos de intervenção que reúnam essa interdisciplinaridade também é conveniente e se caracteriza como uma das alternativas de atuação do profissional de psicologia. Podemos, também, analisar e intervir em condições ambientais e interpessoais no contexto escolar.

Se pensarmos na realização de projetos, o psicólogo escolar tem um alcance muito mais interessante e supera práticas reducionistas quando trabalha em projetos que vão promover o respeito e a valorização da diversidade que constitui os alunos.

Tudo isso é uma forma crítica de atuação do psicólogo no contexto escolar que promove condições para que as crianças compreendam as diferenças e se desenvolvam de modo cooperativo, solidário e respeitoso, e nisso cabe uma infinidade de projetos. Políticas públicas, docência, pesquisas e extensões também são áreas de contribuição da psicologia.

 

5. Como as pessoas podem garantir seus direitos à inclusão nas escolas?

R – Muitos já estão sabendo, de fato, quais são seus direitos. Por outro lado, não pode haver conflito entre família e escola, famílias de alunos que precisam ter garantido os seus direitos de estarem incluídos, de aprender, e escolas que ainda não conseguiram, não mobilizaram todos os esforços para essa inclusão.

Considero ser de fundamental importância que não se tenha essa lacuna, que se tenha o esforço adequado para realizar parcerias, e o psicólogo pode contribuir com isso. As escolas precisam se organizar pedagogicamente e necessitam de suporte para isso. Não são só os professores que incluem, às vezes, a gente tem essa concepção: o professor tem que incluir! Sim, tem, mas também o porteiro, o gestor, o diretor daquela escola.

Não são só os professores que incluem: essa tarefa não é só para eles, ou pelo menos não é exclusivamente deles, é necessário que se recrie o modelo educativo escolar.

Às vezes, há familiares que já estão um passo à frente da equipe nessa questão das estratégias e podem apresentar sua experiência (“olha, meu filho aprende melhor assim, a forma como está acontecendo não tem funcionado para ele”, por exemplo), e fazer essa parceria com a equipe da escola, por meio de diálogos, de cooperação, do estabelecimento de uma relação saudável entre a equipe da escola e a família é fundamental, mas eu diria, também, que a escola teria oportunidade de fazer isso de forma constante e não episódica.

Penso que a escola vai ganhando repertório, vai mudando, e o professor também agrega quando aprende a incluir aquele tipo de especificidade, quando vai incorporando isso à sua formação, ao seu jeito de ensinar, de se relacionar com as famílias, com os demais alunos da turma, com os projetos que são executados, para que não se mude o paradigma de uma forma apenas conceitual, mas que se faça isso na prática.

A inclusão não consegue ocorrer em uma perspectiva individual, precisa acontecer de forma coletivizada, toda a comunidade escolar deve estar mobilizada para esse processo. Aí mora o grande desafio, porque isso não acontece de forma instantânea: precisa-se de condições, tempos e espaços escolares que possam garantir a efetividade da inclusão.

 

Denise Martins

Mestra em Educação pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), especialista em Psicologia Escolar e Educacional e em Psicologia Organizacional e do Trabalho pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), especialista em Terapias Cognitivo-comportamentais e Cognitivo-comportamentais pela Universidade Santo Agostinho (UNIFSA) e tem MBA em Recursos Humanos pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER).

Foi psicóloga escolar na rede privada de Ensino do Piauí e, atualmente, é professora titular da Faculdade de Ensino Superior do Piauí (FAESPI) e professora substituta da UFPI.

 

Comtato - Testes Psicológicos e Livros

 

 

Capa da Coleção TDE II – Teste de Desempenho Escolar 2ª Edição Coleção TDE II – Teste de Desempenho Escolar 2ª Edição

O TDE II foi desenvolvido utilizando critérios modernos de desenvolvimento de instrumentos de avaliação, ampliando sua abrangência para todos os nove anos do Ensino Fundamental. Pode ser aplicado, tanto em demandas de mapeamento da aprendizagem escolar no desenvolvimento típico quanto no atípico.

A partir desse mapeamento, estratégias promotoras de leitura, de escrita, de raciocínio quantitativo e de cálculos poderão ser mais efetivamente selecionadas e aplicadas tanto no contexto clínico quanto no educacional, tornando o desenvolvimento mais bem-sucedido e diminuindo o impacto no cotidiano de dificuldades ou de transtornos específicos de aprendizagem.

Posts relacionados

Deixe um comentário

Campos obrigatórios. *