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Intervenções neuropsicológicas breves em casos de lesão encefálica adquirida (LEA)

A imagem apresenta um modelo de cérebro humano, de cor amarela, com uma faixa de gaze branca envolvendo-o, simbolizando um cuidado ou proteção após um trauma. O fundo é amarelo, criando uma aparência minimalista e destacando o objeto principal. A imagem evoca associações com lesões cerebrais e intervenções neuropsicológicas.

por Aline Carolina Bassoli Barbosa, Ivanda de Souza Silva Tudesco e Vera Lúcia Messias Fialho Capellini

A importância do conhecimento acerca das lesões encefálicas adquiridas e os componentes de um processo de intervenção neuropsicológica

A lesão encefálica adquirida (LEA) refere-se a todo tipo de lesão cerebral apresentada ao longo da vida, elas podem resultar de traumatismo craniencefálico (TCE), acidentes vasculares encefálicos, tumores, infecções, anóxia, entre outras causas (Miotto, 2015).

De acordo com o Ministério da Saúde (2015), o TCE é uma das causas mais frequentes de morbidade e mortalidade em todo o mundo, com impacto significativo na qualidade de vida. É uma agressão traumática ao cérebro ocasionada por causas externas, gerando lesões anatômicas ou comprometimento funcional, de couro cabeludo, crânio, meninges e/ou o encéfalo, é a principal causa de morte e sequela em crianças e adultos jovens nos países industrializados ocidentais (Vaz & Anauate, 2017).

As consequências do TCE podem resultar em incapacidades físicas, cognitivas e emocionais, sendo que as físicas podem ser motoras, visuais, táteis, entre outras; as incapacidades cognitivas podem estar relacionadas a problemas de atenção, memória e funções executivas; no que se refere às incapacidades ou comportamentos inadequados, os aspectos emocionais que interferem na qualidade de vida do indivíduo incluem a dificuldade de autocontrole, perda da autoconfiança, motivação diminuída, depressão e ansiedade (Vaz & Anauate, 2017).

De acordo com Miotto (2014) é possível identificar déficits de linguagem, prosopagnosia (dificuldade para reconhecer faces familiares), agnosia auditiva (dificuldade em reconhecer sons) e pacientes com forma leve de traumatismo podem apresentar alguns sintomas conhecidos por síndrome pós-concussional, caracterizados por dificuldades de memória, atenção, tontura, fadiga, irritabilidade e flutuação do humor, sendo que o TCE de forma leve corresponde a aproximadamente, 80% de todas as lesões.

Outra enfermidade resultante de LEA, consiste no Acidente Vascular Encefálico (AVE), conforme o Ministério da Saúde (2013), ele representa a primeira causa de morte ou incapacidade no Brasil, com uma incidência anual de 108 casos por 100 mil habitantes. As consequências do AVE irão depender da área acometida e da extensão da lesão e as funções são divididas em cinco grupos: funções motoras, sensoriais, cognitivas, comunicativas e emocionais (Vaz & Anauate, 2017).

E, finalmente, outros tipos de LEA´s são as Doenças Cerebrovasculares (DC), Souza e Teixeira (2013) referem que as DC´s são consideradas a segunda causa mais frequente de demência e sua prevalência aumenta em função da idade, elas instituem um conjunto de demências secundárias às lesões cerebrovasculares, sendo atualmente reconhecidas como um grupo heterogêneo de condições clínicas.

Enfatizando o aspecto relacionado ao processo de reabilitação em LEA´s, é importante ressaltar que as metas da intervenção neuropsicológica devem ser traçadas individualmente, pois cada paciente é único, dessa forma, é delimitado um objetivo geral e, depois objetivos específicos, sendo necessário transmiti-los a todos os envolvidos no processo: paciente, familiares e/ou cuidadores (Vaz & Anauate, 2017).

Abordando a avaliação neuropsicológica como premissa básica para o início de processo de intervenção, Camargo (1997 citado por Camargo, Bolognani & Zuccolo, 2014) discorre que a mesma tem se mostrado de valor fundamental, auxiliando o trabalho de vários profissionais da saúde, pois propicia um amplo leque de aplicações em diversos contextos, como no caso de uma lesão.

A avaliação neuropsicológica consiste num processo amplo e complexo de exame de desempenho e de funcionalidade dos aspectos cognitivos e de sua relação com a queixa apresentada (Fonseca, Zimmermann & Kochhann, 2015). Lezak et al. (2004) referem que tal processo é necessário para identificar os aspectos pré-morbidos do paciente, comparando o desempenho atual a uma estimativa da habilidade esperada, o que possibilita identificar as habilidades preservadas que podem ser utilizadas como recursos no processo de intervenção.

Para tal processo, atualmente há diversos materiais disponíveis para o uso de profissionais da saúde, incluindo instrumentos utilizados para uma avaliação breve ou triagem cognitiva pós-lesão.

Dentre eles é válido enfatizar o Neupsilin – Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve (Fonseca, Salles e Parente, 2009) que objetiva mensurar o desempenho do paciente nos seguintes processos neuropsicológicos: orientação têmporo- espacial, atenção concentrada, percepção visual, habilidades aritméticas, linguagem oral e escrita, memória verbal e visual, praxias e funções executivas, ele consiste num material restrito aos profissionais de psicologia e fonoaudiologia.

Outro recurso disponível é o TRIACOG – Triagem Cognitiva (Rodrigues, Bandeira e Salles, 2021) que visa investigar oito funções neuropsicológicas principais: orientação; memória verbal episódico-semântica, praxias, memória visual, atenção auditiva/ memória operacional, funções executivas, linguagem e processamento numérico, ambos da Editora Vetor.

Tais aspectos colaboram para que o profissional de saúde possa estabelecer metas assertivas que possam ser mensuráveis e trabalhar na conclusão delas, para então estabelecer os próximos passos em sua intervenção, visando a melhora na qualidade de vida do sujeito que busca o seu atendimento. A formação continuada também deve ser uma premissa básica para todo profissional de saúde que realize avaliações e intervenções.

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Aline Carolina Bassoli Barbosa

Psicóloga e neuropsicóloga; Pós-Graduação em Neuropsicologia e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva pelo Centro Sul Brasileiro de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação; Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem, pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho. Professora e supervisora técnica da pós-graduação em Neuropsicologia Clínica da Faculdade CENSUPEG, aline.cb.barbosa@unesp.br

 

Ivanda de Souza Silva Tudesco

Psicóloga e neuropsicóloga, mestre e doutora em Ciências pelo Departamento de Psicobiologia-UNIFESP-SP. Professora, orientadora e supervisora clínica da Pós-Graduação em Neuropsicologia da Faculdade CENSUPEG. Pesquisadora convidada no Departamento de Psicobiologia-UNIFESP-SP. ivandatudesco@gmail.com

 

Vera Lúcia Messias Fialho Capellini

Professora associada e diretora da Faculdade de Ciências – UNESP Bauru. Docente do Departamento de Educação e dos Programas de Pós- graduação em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem e em Docência da Educação Básica – UNESP Bauru. vera.capellini@unesp.br

Referências

Barbosa, A. C. B., Tudesco, S. S. I., Capellini, V. L. M. F. (2022). Intervenções Neuropsicológicas Breves em Casos de Lesão Encefálica Adquirida (LEA) ([S. l.], v. 18, n. 2, p. 14–21). Apae Ciência.10.29327/216984.17.2-3. https://apaeciencia.org.br/index.php/revista/article/view/368. Acesso em: 26 nov. 2023.

Brasil (2013). Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de atenção à reabilitação da pessoa com acidente vascular cerebral / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde.

Brasil (2015). Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes de atenção à reabilitação da pessoa com traumatismo cranioencefálico / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde.

Camargo, C. H. P., Bolognani, S. A. P., Zuccolo, P. F. O Exame Neuropsicológico e os Diferentes Contextos de Aplicação. In: Fuentes, D., Malloy-Diniz, L. F., Camargo, C. H. P., Cosenza, R. M. (Orgs.) (2014). Neuropsicologia: Teoria e Prática (2ª ed.). Artmed.

Fonseca, R. P., Zimmermann, N., Kochhann, R. Avaliação Neuropsicológica: Bases para a Interpretação Quantitativa e Qualitativa de Desempenho. In: Santos, F. H., Andrade, V. M., Bueno, O. F. A. (Orgs.) (2015). Neuropsicologia Hoje (2ª ed.). Artmed.

Fonseca, R. P., Salles, J. F., Parente, M. A. M. P. (2009). Neupsilin: Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve – manual. Vetor Editora.

Lezak, M. D. (2004). The neuropsychological examination: procedures. In: M. D. Lezak. Neuropsychological assessment (4ª ed.). Oxford University Press.

Miotto, E. C. Lesões Adquiridas. In: Santos, F. H., Andrade, V. M., Bueno, O. F. A. (Org.) (2015). Neuropsicologia Hoje (2ª ed.). Artmed.

Rodrigues, J. C.; Bandera, D. R.; Sales, J. F. (2021). Triacog: triagem cognitiva.Vetor Editora.

Souza, L. C., Teixeira, A. L. Envelhecimento patológico do sistema nervoso. In: Malloy-Diniz, L. F., Fuentes, D., Cosenza, R. M. (Orgs.) (2013). Neuropsicologia do Envelhecimento: uma abordagem multidimensional. Artmed,.Vaz, D. G. L., Anauate. C. Traumatismo cranioencefálico / acidente vascular encefálico e a reabilitação neuropsicológica. In: Anauate, C., Glozman, J. (Orgs.) (2017). Neuropsicologia Aplicada ao Desenvolvimento Humano. Memnon.

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