A capacidade de mobilizar as pessoas de forma positiva, extraindo o melhor dela é característica de quem tem energia relacional
Energia relacional é a habilidade emocional queridinha da vez para as lideranças nas mais diversas organizações
Sabe aquelas pessoas capazes de mudar a vibração de um lugar, tornando tudo mais luminoso e positivo? Aquelas que despertam em você a vontade de ser melhor e dar o melhor de si? Elas são possuidoras de uma habilidade conhecida como energia relacional e as organizações, hoje, perceberam que lideranças com essa capacidade são extremamente importante nos ambientes de trabalho.
De acordo com a especialista em Psicologia Positiva e gerente das áreas comercial e de serviços da Vetor Editora Anna Maria Buccino, a energia relacional consiste na capacidade que um indivíduo possui de energizar positivamente quem está ao seu redor.
“Nas empresas podemos citar o exemplo de líderes inspiradores, cujo contato com seus colaboradores funciona como uma ‘vitamina’ de energia, que estimula o engajamento, a construção de ambientes de confiança, de criatividade, de colaboração, de desenvolvimento, de florescimento mútuo”, esclarece.
Anna Maria afirma que essas pessoas, geralmente, são aqueles líderes que olham para frente, que sabem que os desafios existem, não procuram negar e se esconder atrás da falsa positividade, mas que estimulam cada um ao seu redor a encontrar seu melhor talento para a superação desses desafios.
“São pessoas automotivadas, que transmitem uma vibração, sem ter que forçar para que isso aconteça, por ser uma manifestação autêntica e espontânea de seus valores”, diz.
Para ela, essas pessoas contagiam quem está a seu redor para se desenvolverem nesse sentido também, pois é um tipo de convívio que eleva a sensação de bem-estar e de realização, de uma maneira satisfatória.
Maiores resultados
Com mais de 25 anos de experiência na área de RH, a sócia fundadora da Taqe, plataforma de recrutamento e seleção virtual, Denise Asnis cita as pesquisas de Kim Cameron e Wayne Baker, da Universidade de Michigan; Ross e Brad Owens, da Brigham Young University e Dana Sumpter, da California State University-Long Beach, que garantem que, quando há geração de energia relacional no local de trabalho, o desempenho aumenta.
“Eles afirmam também que, por definição, conexões de alta qualidade geram energia relacional. Assim, as empresas também devem se concentrar em apoiar líderes a construir conexões de alta qualidade e fortalecer o capital social”, afirma Denise.
A especialista em Psicologia Positiva diz ainda que as pesquisas realizadas por Emma Seppälä e Kim Cameron, pesquisadores das universidades de Yale e Michigan, comprovam que as organizações que incentivam e possuem profissionais com esse tipo de energia, tendem a obter resultados maiores e mais sustentáveis a longo prazo, além de enfrentarem momentos de desafios com mais autocontrole e consistência.
Anna Maria salienta a importância de não confundir a energia relacional com algo fútil, falso, forçado. “É sempre importante reforçar que não se trata de nenhum tipo de “bíblia do otimismo”, onde pronunciar palavras bonitas farão o dia melhor, negando a existência de problemas ou situações desafiantes”, reforça.
Cultura doadora
Para Denise, os resultados podem ser verificados com uma avaliação, de tempos em tempos, sobre a qualidade das etapas na atuação da liderança, se há uma identificação dos talentos e se estão bem cuidados.
“As empresas devem se preocupar em promover uma cultura colaborativa, ou como os autores chamam, “doadora”. Afinal, quando ajudamos um colega de trabalho, criamos boas e positivas energias. Ao recebermos ajudas e dicas, uma energia na forma de gratidão também é gerada. Essa gratidão irá possibilitar que o movimento virtuoso continue, quando este retribuir e ajudar a outros.
Após atuar por 25 anos como executivo em empresas nacionais e multinacionais, onde adquiriu profunda experiência na liderança e condução de equipes, o sócio-diretor da Crescimentum Marco Fabossi diz que o grande “inimigo” da energia relacional são as organizações com excessivo foco em resultados de curto prazo, onde o controle sobrepõe a confiança, a competição sobrepõe a cooperação, e os resultados tornam-se mais importantes do que aqueles que constroem os resultados.
“Os líderes que ainda não descobriram que “o líder que não serve, não serve para ser líder” e, por isso, entendem que estão nas organizações para serem “servidos” pelas pessoas, e não para servi-las, empoderá-las, desenvolvê-las, cuidar delas e apoiá-las em sua jornada de crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional são inimigos dos seu negócios”, enfatiza.
Jornada pessoal
Marco Fabossi salienta que apesar de se tratar de uma energia que busca impactar positivamente os relacionamentos, as pessoas e ambientes, o desenvolvimento dessa competência passa necessariamente por uma jornada de desenvolvimento interior, por meio do aumento de autoconhecimento, vulnerabilidade e autoestima.
“Para que alguém ofereça energia positiva à outra pessoa, é preciso ter algum ‘estoque’ dessa energia para oferecer, já que nós só conseguimos dar aquilo que temos, portanto, para oferecer perdão, por exemplo, é preciso primeiro saber perdoar-se. E o mesmo acontece em relação à compaixão, bondade, confiança, honestidade, generosidade e gratidão”, esclarece.
Fabossi diz que quando essas habilidades são desenvolvidas por cada pessoa há um aumento da autoconfiança, autoestima, produzindo a energia relacional positiva do lado de dentro, possibilitando oferecê-la nas relações. Uma vez que a cultura esteja estabelecida, é preciso que todos os sistemas e símbolos da organização estejam alinhados a ela.
“A liderança tem um papel fundamental em todo este processo, desde do desenho da cultura, até a sua incorporação, porque são as atitudes e comportamentos da liderança que darão “voz” a essa cultura, promovendo a energia relacional positiva, criando um ambiente de confiança, empatia, cooperação e prosperidade”, reforça Fabossi.
A ICEO Practice Leader na empresa de recrutamento LHH Irene Azevedoh lamenta que o desenvolvimento da energia relacional ainda seja um movimento inicial. “Os empresários ainda stão na fase de consciência de que essa soft skill é necessária, mais ainda, fundamental para os resultados consistentes”, explica.
Para Irene, as organizações podem estimular essa habilidade promovendo trilhas de autoconhecimento; possibilitando às lideranças a identificação de seus motivadores, valores, pontos fortes e áreas de desenvolvimento. “Também ajudam se possibilitarem que esses líderes exercitem a escuta ativa e desta forma entendam melhor seus colaboradores, provendo assim o ambiente de automotivação e consequentemente de energia relacional”, finaliza.
Originalmente publicado em 23/05/2022 no site Correio 24 horas: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/quem-nao-sabe-servir-nao-serve-para-liderar-entenda-a-energia-dos-lideres/