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De tabu a crise, saúde mental não pode mais ser ignorada por empresas

por Laura Pancini


Meio milhão de brasileiros foram afastados por adoecimento mental em 2020; solução está na prevenção, tema que já é explorado por startups como Vittude e Bee Touch


 

Não foi só Simone Biles que precisou se abster do trabalho para cuidar da própria saúde mental. Em 2020, foram 576 mil pessoas afastadas do mercado de trabalho por conta de adoecimento mental, um aumento de 26% em comparação a 2019, segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho.

Para empresas, a alta em afastamentos indica que é preciso buscar outra solução. Dados da última edição do Fórum Econômico Mundial apontam que companhias em todo o mundo perdem cerca de 2,5 trilhões de dólares em produtividade, com faltas no trabalho e rotatividade.

A mudança está em mental healthtechs como a Vittude, referência brasileira em psicologia on-line que desenvolveu uma solução completa de saúde mental para organizações; e a Bee Touch, startup que mensura e prediz riscos psicossociais por meio do uso de dados e da tecnologia.

Para Tatiana Pimenta e Ana Carolina Peuker, CEOs e cofundadoras de cada empresa, respectivamente, o trabalho é sobre a prevenção do adoecimento mental. “Com a covid, os sintomas agravaram. É como se tivesse colocado uma lupa naquilo que já existia”, disse Peuker à EXAME.

“Houve aumento nos casos de TOC, compulsividade alimentar, abuso de álcool e drogas”, relata Pimenta sobre a pandemia, além dos casos de ansiedade e depressão. A fundadora da Vittude também revelou que os funcionários mais afetados tendem a vir dos segmentos de tecnologia, varejo, publicidade ou serviços.

Segundo levantamento da Distrito, no ano passado as startups do ramo amealharam 4,68 milhões de dólares em investimentos – 150% a mais do que em 2019, quando elas receberam 1,85 milhão de dólares.

“As empresas estão começando a olhar para isso como uma estratégia competitiva. Eu invisto [na saúde mental], afasto menos pessoas, gasto menos e tenho colaboradores mais felizes, produtivos e um ambiente melhor”, disse Pimenta, que acredita que a questão da “marca empregadora” também influencia na decisão.

 

Match’ com o psicólogo ideal

Fundada em 2016 por Tatiana Pimenta e Everton Höpner, a Vittude oferece uma solução completa de saúde mental para empresas, que engloba desde o diagnóstico até a capacitação da alta liderança.

Empreendedora Tatiana Pimenta sorrindo para a câmera
Tatiana Pimenta, CEO da Vittude (Juliana Frug / Vittude/Divulgação)

 

“Talvez um dos grandes fatores de sucesso [da Vittude] é porque eu consigo entender muito claramente o que um paciente sente de dor, desde o tabu de não aceitar o que ele está sentindo até preconceito ao redor dele”, conta Pimenta, que foi diagnosticada com depressão em 2012.

O carro-chefe da companhia é a “Vittude Match”, ferramenta de inteligência artificial que cruza as demandas e expectativas dos pacientes com a experiência clínica e dados do psicólogo.

Através de 7 perguntas abertas e fechadas, o algoritmo faz o processamento da linguagem usada por quem responde. Pimenta explica que o que a empresa chama de “gramática da depressão” consegue ajudar na identificação do perfil do psicólogo ideal para o paciente.

“Muita gente usa o campo para descrever as emoções. As pessoas não sabem que estão doentes”, comenta a presidente executiva. “Se vejo alguém falando sobre estar desvalorizado, ele não está falando sobre querer se matar, mas é uma gramática de ideação suicida. Então encaminhamos para um psicólogo já acostumado ao perfil do usuário.”

A curadoria de qual psicólogo pode trabalhar sob a ferramenta da Vittude é rigorosa. Só os 3% melhores do processo seletivo tendem a entrar e, atualmente, 20.000 profissionais estão na lista de espera.

A combinação da inteligência artificial com a seleção exigente se mostrou um sucesso para a startup: “Depois de quase um ano no ar, descobrimos que a permanência nas sessões após o primeiro encontro aumentou em 600%. A frustração causada pela tentativa e erro foi reduzida em 90% dos casos”, disse Pimenta.

Desde o início da pandemia, a healthtech coleciona números impressionantes. A startup viu o faturamento crescer 540% e o número de agendamentos de consultas aumentar 700%.

Hoje, são mais de 450 mil vidas cobertas por benefícios corporativos e cerca de 130 clientes, incluindo companhias como Grupo Boticário, Renner, Raia Drogasil, Grupo Profarma, Saint Gobain, SAP e Sky.

 

Saúde com ciência de dados

A Bee Touch foi fundada em 2011 pela professora e pesquisadora Ana Carolina Peuker; a psicóloga, mestre e doutora em Ciências Médicas Sibele Faller e o cientista da computação, Felipe Scuciatto. Juntos, eles desenvolveram a Avax Psi, primeira plataforma digital de avaliações psicológicas a partir de ciência de dados do Brasil.

Empreendedora Ana Carolina Peuker sentada em sofá olhando para a câmera
Ana Carolina Peuker, fundadora e CEO da BeeTouch (Bee Touch/Divulgação)

A plataforma da Bee Touch ajuda empresas a atuarem de maneira preventiva. Além de um sistema de rastreio de fatores psicossociais no trabalho, a startup produz análises a partir das respostas dos colaboradores e orienta a gestão sobre os próximos passos.

“[A análise é] justamente para mostrar para a empresa os aspectos que podem criar vulnerabilidades para o adoecimento mental”, disse Peuker.

O usuário recebe um questionário onde serão avaliados temas como: organização no trabalho, relação com colegas, se há definição nos papeis de cada colaborador ou presença de qualquer forma de abuso moral, assédio ou preconceito. “São questões mais ampliadas e que ajudam a fazer um diagnóstico de necessidades.

Quem responde as perguntas ganha um feedback imediato, enquanto o gestor recebe as informações de forma anônima em tempo real, tudo de acordo com as normas da LGPD. Depois, o relatório é formulado e enviado à empresa.

“A Bee Touch construiu um protocolo de avaliação psicossocial que ninguém tem no mundo”, avalia Ricardo Mattos, CEO da Vetor Editora, empresa com foco em pesquisa e geração de conhecimento para a área psicológica e que investiu na Vittude e na Bee Touch

Com 55 anos de atuação nacional, a Vetor prevê crescimento de 40% com a digitalização das soluções em psicologia. Já a Bee Touch planeja triplicar seu faturamento em 2021 — com a crise pandêmica, a empresa cresceu quase 70% em 2020.

A Vetor Editora também viu a procura por testes on-line aumentar nos setores de RH de empresas para recrutamento, seleção e rotina do dia a dia. Os que tiveram maior aumento foram: o teste de personalidade, com aumento de 170%; o de atenção, com mais de 100% de crescimento; e inteligência, também com aumento de cerca de 100% de procura.

Na Bee Touch, são mais de 300 mil vidas cobertas e cerca de 15 clientes, como as Caixa dos Advogados da OAB de São Paulo, Piauí e Mato Grosso do Sul, e a BRASKEM, no Rio Grande do Sul, onde foi desenvolvido um projeto em parceria com o Hospital Moinhos do Vento.

“Eu percebo nos clientes que a visão sistêmica e ampliada que oferecemos faz com que o colaborador perceba a entrega com mais valor. Não é algo só pra inglês ver”, disse Peuker.


Originalmente publicado em 12/08/2021 no site EXAME: https://exame.com/tecnologia/de-tabu-a-crise-saude-mental-nao-pode-mais-ser-ignorada-por-empresas/

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