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Aproximações da Prática Baseada em Evidências com a Avaliação Psicológica

Descrição da imagem: A imagem retrata um ambiente focado em leitura e análise de documentos, sugerindo um contexto de estudo ou avaliação. Em primeiro plano, aparece uma mão segurando uma caneta enquanto escreve ou faz anotações em um documento. No fundo, é possível ver um par de óculos de armação preta repousando sobre papéis cheios de texto, representando concentração e detalhamento. A composição sugere um trabalho meticuloso e reflexivo, alinhado ao tema da prática baseada em evidências na avaliação psicológica, destacando a importância de embasamento teórico e análise criteriosa para decisões fundamentadas.

por Letícia Estore e Daniela Garcia Bandeca Schwingel

É possível pensar em uma prática profissional baseada em evidências científicas no campo da avaliação psicológica? Não só é possível, como é uma realidade em constante expansão ao longo dos anos. A Prática Baseada em Evidências (PBE) tornou-se um tema extremamente relevante na psicologia.

Apesar de sua popularidade crescente, o esforço científico sobre esse tema começou no final do século XIX, com importantes nomes da psicologia experimental contribuindo para que a psicologia se tornasse independente da filosofia e se configurasse como uma prática aplicada (Nascimento, 2012).

A ideia de uma prática baseada em evidências remete à união de três grandes aspectos: a experiência do profissional, adquirida ao longo de sua prática; o que há de melhor em termos de evidência científica para uma condição específica; e, talvez o mais importante, a compreensão das idiossincrasias do paciente (Melnik & Atalah, 2011).

Com esse panorama inicial, discutiremos as aproximações das práticas baseadas em evidências com a avaliação psicológica. Um ponto de partida é entender como um teste é construído. Quais são os passos e ideias iniciais? Uma ferramenta de avaliação é pensada para avaliar um ou mais aspectos, com a finalidade de medir com fidelidade aquilo que se propõe.

Para tanto, essas ferramentas são desenvolvidas com uma consistente base teórica e científica para uma determinada causa. Seus manuais são desenvolvidos para auxiliar o profissional durante e após a aplicação do teste, e a aplicação é diretamente objetivada ao avaliando. Além disso, as tabelas psicométricas são desenvolvidas a partir de um rigoroso processo que iremos resumir a seguir.

Esse processo de construção das tabelas psicométricas envolve várias etapas essenciais. Inicialmente, os testes são aplicados a uma grande amostra representativa da população. Essa amostra deve refletir a diversidade do público-alvo em termos de idade, gênero, contexto socioeconômico, entre outros fatores relevantes.

Após a coleta de dados, são realizadas análises estatísticas detalhadas para determinar a consistência interna, a validade e a confiabilidade do teste. Os resultados obtidos são então utilizados para criar tabelas normativas, que fornecem percentis.

Os percentis são uma forma padronizada de apresentar os resultados dos testes, permitindo que o desempenho de um indivíduo seja comparado ao de uma população normativa. Por exemplo, se um indivíduo atinge um percentil em um teste de inteligência que se configura como acima da média, isso significa que ele superou parte da população normativa. Esse processo assegura que os resultados dos testes sejam analisados de forma objetiva, padronizada e comparável.

O profissional se beneficia significativamente desse material porque as tabelas psicométricas fornecem uma base sólida e cientificamente validada para a interpretação dos resultados dos testes. Elas permitem ao psicólogo fazer diagnósticos precisos e tomar decisões informadas sobre intervenções e tratamentos.

Além disso, o uso de tabelas normativas ajuda a garantir que as avaliações sejam justas e equitativas, pois consideram a variabilidade natural da população. Com esses dados em mãos, o profissional pode oferecer um atendimento mais personalizado e eficaz, adaptando suas estratégias às necessidades específicas de cada paciente e contribuindo para melhores desfechos clínicos.

Um exemplo é o Teste para Identificação de Sinais de Dislexia (TISD), lançado recentemente, em 2024. Este instrumento de triagem tem como objetivo identificar sinais de desempenho escolar e neurocognitivos de dislexia. Essa especificidade se alinha à PBE, pois a construção desta ferramenta foi pensada especificamente para um público-alvo, um transtorno de aprendizagem e uma faixa etária específica.

Foram despendidos esforços significativos para realizar tabelas psicométricas que asseguram a interpretação precisa e eficaz dos testes psicológicos. Essas tabelas garantem que os resultados sejam analisados de forma objetiva, padronizada e comparável, proporcionando uma base sólida para o diagnóstico, avaliação e acompanhamento de indivíduos em diversos contextos psicológicos, familiares e educativos (Roama-Alves et al., 2024).

Um profissional que realiza avaliações psicológicas está em proximidade com a PBE? A PBE não se refere a uma modalidade de psicoterapia ou a um protocolo de intervenção específico, mas a uma maneira de tomar decisões, integrando em seu repertório a melhor evidência disponível na literatura. Entretanto, a PBE não desconsidera a experiência do profissional ou a individualidade do cliente.

A meta é incorporar descobertas científicas atualizadas como mais um fator a ser contemplado na atuação profissional. O simples movimento de selecionar a melhor ferramenta disponível para atender de acordo com as características do paciente já é uma aproximação expressiva com o movimento das práticas baseadas em evidências.

Um dos componentes fundamentais da PBE é a consideração das características, cultura e preferências do paciente, destacando a participação integral do mesmo na tomada de decisão de sua própria intervenção. O sucesso de uma intervenção depende da consideração das particularidades do indivíduo.

Cada um desses componentes requer do profissional uma acuidade constante, necessitando atualização regular da literatura e dos novos materiais que são desenvolvidos (Barlow, Boswell & Thompson-Holland, 2013).

Uma avaliação psicológica é um processo abrangente que envolve a utilização de testes padronizados, entrevistas, observações e outras técnicas para obter uma compreensão completa do indivíduo avaliado (Hutz et al., 2016). Ao selecionar os testes, o profissional deve assegurar que eles sejam válidos e confiáveis para a finalidade específica da avaliação, considerando a faixa etária, o contexto cultural e as características individuais do paciente.

Além dos testes, é fundamental observar fatores contextuais como o histórico de vida do paciente, suas experiências recentes, comportamentos observáveis e relatos de terceiros, a fim de obter uma visão holística e precisa do funcionamento psicológico do indivíduo. Tais aspectos também se aproximam da PBE, abrangendo a experiência do profissional em selecionar uma bateria de testes de acordo com a demanda e especificidades do paciente, e escolhendo o que há de melhor no ramo de avaliação psicológica.

Em conclusão, a prática baseada em evidências na avaliação psicológica é não apenas possível, mas essencial para a eficácia e precisão no diagnóstico e intervenção psicológica. Ela integra a melhor evidência científica disponível com a experiência profissional e as necessidades únicas de cada paciente, promovendo um atendimento psicológico de alta qualidade e relevância.

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Letícia Estore

Estudante de Psicologia (FIB Bauru) e Estagiária na Psicovita.

 

Daniela Garcia Bandeca Schwingel

https://lattes.cnpq.br/5125503928264965

Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade do Sagrado Coração (2019), Especialista em Neuropsicologia pelo IPOG (2022). Especialista em Psicologia do Trânsito – Título proferido pelo Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo (2009), Especialização em Psicologia Clínica pelo HRAC – Hospital de Anomalias Crânio faciais, USP – Bauru (2003), Especialização em Psicopedagogia pela Universidade do Sagrado Coração (2002).

Possui graduação em Psicologia – Licenciatura e Formação de Psicólogo pela Universidade do Sagrado Coração (1997). Proprietária da Psicovita, representante de editoras de testes psicológicos, onde presta serviços de assessoria e treinamento na área de avaliação psicológica.

Docente convidada do curso de Especialização em Neuropsicologia do CENSUPEG, na disciplina de Psicometria Aplicada à Avaliação Neuropsicológica. Docente da FIB – Bauru (Faculdades Integradas de Bauru) no curso de Psicologia, disciplina de Avaliação Psicológica, Psicodiagnóstico e Técnicas de Observação e Entrevista.

Referências

Barlow, D. H., Boswell, J. F., Thompson-Hollands, J. (2013). Eysenck, Strupp e 50 anos de pesquisa em psicoterapia: uma perspectiva pessoal (v. 50, n. 1, p. 77-87). Psicoterapia. https://psycnet.apa.org/record/2013-08252-011

Krug, J. S. et al. Conceituação do Psicodiagnóstico na Atualidade. In: Hutz, C. S. (2016). Psicodiagnóstico. Artmed.

Melnik, T., Atalah, A. (2011). Psicologia Baseada em Evidências: Articulação entre a Pesquisa e Prática Clínica. In: _______ (2011). Psicologia Baseada em Evidências Provas Científicas da Efetividade em Psicoterapia (pp. 5-8). . Editora Gen Santos.

Nascimento, E. F. (2012). Psicologia científica e o legado de Wundt (v. 12, n. 1, pp. 33-45). Revista Psicologia: Organizações e Trabalho. http://periodi cos.pucminas.br/index.php/sinapsemultipla/article/24/1

Roama-Alves, R. J. et al (2024). TISD: teste para identificação de sinais de dislexia: manual técnico (1ª ed). Vetor Editora.

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