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Languishing, uma emoção a ser entendida

por Anna Maria Buccino – Administradora de empresas, consultora, especialista em Psicologia Positiva, gerente das áreas comercial e de serviços na Vetor Editora Psicopedagógica.

Close-up do olho esquerdo de uma pessoa idosa.

Há dias, semanas, meses em que a sensação de não estar indo a lugar nenhum domina todo o ser. A pessoa faz muitas coisas, mas está desconectada, nem lembra direito o que fez, o que viu, o que leu, o que comeu.

O tempo parece não estar correndo como de costume. Lembra um pouco o piloto automático de um carro, que a pessoa aciona e se desliga. Não há emoção, não há paixão, não há tesão. Os dias acontecem, a vida passa, e a sensação de tanto faz permanece.

Não há brilho nos olhos, não há espaço para sonhos, nem para excitação por projetos longos.

É um vazio que não se preenche com comida, nem com exercícios físicos, nem com trabalho. Não se preenche.

Pode-se dizer que é depressão, mas não é isso. Existe um apreço pela vida, mas existe a ausência de alegria, de curtição. Uma sensação de estagnação toma conta.

Um sentimento de luto por todas as mortes noticiadas diariamente. Sentimento de perda. Perda de entes queridos, perda de liberdade (não só liberdade física, mas de expressão), perda de encontrar as pessoas que amamos, de relaxar com amigos, de celebrar a vida. E o vazio só aumenta.

A motivação não vem facilmente, mas não é por falta de energia ou sensação de cansaço, é algo que acontece e que não se sabe explicar, somente que não se percebe razão para fazer as coisas, pois parece que a vida parou em um ponto lá atrás, antes do começo da pandemia e a noção do tempo foi completamente modificada, senão perdida.

Planejar o futuro, com a chegada das vacinas, trouxe certo ânimo, mas acompanhar as notícias de mortes, variantes, retomada de lockdown traz o vazio de volta.

As consequências no ambiente de trabalho podem ser bastante impactantes. Aumenta a falta de concentração, vontade de criar. O colaborador pode ter a sensação de estar cumprindo tabela. E cumpre, realiza o que deve realizar, mas falta o brilho nos olhos. Um certo medo de se expor, de fazer contato com outras pessoas presencialmente, de ir para a rua.

E, ainda pior, é a sensação de culpa que a pessoa começa a alimentar por estar sentindo tudo isso, enquanto existem tantas outras coisas ruins acontecendo com as pessoas. Uma culpa por se sentir egoísta, em estar sentindo esse vazio por coisas que parecem banais comparadas às mazelas de outros que estão perdendo seus familiares, empregos, que estão passando fome. Será que a pessoa tem o direito de se sentir assim diante de tantas outras coisas ruins que não estão acontecendo com ela?

Será que a pessoa tem o direito de ser humana e lidar com seus próprios monstros, mesmo que diante dos olhos alheios não pareçam ser assim tão assustadores?

Se você se identificou com alguma dessas sensações, agora elas têm um nome: languishing.
Esse termo surgiu em 2002, quando o psicólogo Corey Keyes realizou uma pesquisa e identificou pessoas que não se consideravam felizes, mas também não se consideravam deprimidas e utilizou o termo languishing para definir esse tipo de emoção.

Em português, o termo pode ser traduzido para definhamento, enfraquecimento, apatia. E vem ganhando destaque após a publicação do artigo There’s a name for the blah you’re feeling: it’s called languishing, escrito pelo psicólogo Adam Grant para o The New York Times, em abril de 2021.

No artigo, Grant fala que não se trata de Burnout, nem depressão, é sobre falta de alegria. E, de acordo com o que publicou, essa será uma emoção dominante em 2021. “Parece que você está se arrastando pelos dias, vendo sua vida através de uma janela embaçada”, nas palavras do psicólogo.

No artigo, Grant aborda o fato de as pessoas perderem a concentração; usando termos da neurociência, ele diz que é uma sensação de a amígdala (região do cérebro que faz parte do sistema límbico e é um importante centro regulador do comportamento agressivo, das respostas emocionais e da reatividade a estímulos biologicamente relevantes – fonte Wikipedia) estar em constante estado de alerta.

Fala também sobre como a psicologia pensa e aborda a saúde mental sob a ótica da depressão ou do florescimento, mas ainda não atua com tanto foco nessa emoção, que estaria entre esses dois estados emocionais. E fala também sobre como não dar a devida atenção a essa sensação é um risco para a saúde mental.

Do ponto de vista da liderança, atentar para esse tipo de emoção é importante para identificar sintomas em seus colaboradores e em si mesmo. Identificar algo que possa ser semelhante ao que já foi apresentado nesse artigo ou que remeta a essa sensação de definhamento, e pode atrapalhar o desempenho das pessoas no dia a dia.

O momento em que vivemos é muito diferente de qualquer experiência anterior. Saber que esse tipo de emoção existe e pode estar afetando membros da equipe é ponto de atenção para uma liderança trabalhar uma gestão humanizada e empática. Saber como ajudar seus colaboradores a identificá-la e nomeá-la, ajudar a entender que outras pessoas também estão passando por isso e que podem encontrar acolhimento na liderança para ajudar a superar e seguir.

O acolhimento do colaborador pode fazer a diferença para que ele se sinta fortalecido e busque uma terapia, um apoio psicológico e evite que o estado avance para algo mais grave. Além disso, o líder pode adotar algumas práticas que tragam mais sentido ao trabalho realizado diariamente. O mais importante aqui é estimular o diálogo franco, aberto, para que o colaborador se sinta encorajado a falar sobre essa emoção e não responder simplesmente que está tudo bem, quando, na verdade, não está.

Algumas práticas da Psicologia Positiva são muito efetivas para aproximar os colaboradores do estado de fluxo, de florescimento, conectando-os com suas forças, com experiências profissionais positivas, que estimulem sua concentração e o foco no que é importante e significativo para eles. Uma sugestão que Grant apresenta em seu artigo é estimular a realização de pequenas e significativas metas, que elevarão o nível de satisfação e realização em um curto espaço de tempo.

A liderança pós-pandemia tem um papel humanizado mais acentuado e fortalecido. Por isso, estar atento ao que está acontecendo no mundo é estar atento ao que pode estar acontecendo com sua equipe, com sua organização.

 

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