por Lubieska Saleme Nogueira
A orientação profissional (OP) surge como ramo da psicologia no ano de 1902, com o Centro de Orientação profissional de Munique. Seus objetivos estavam ligados ao aumento da eficiência industrial (Sparta, 2003).
Em 1907 a 1909, com Frank Parson, nos Estados Unidos, a OP ganha um novo significado: a preparação dos jovens que estavam saindo do contexto escolar e iniciando no mercado de trabalho. Parson acreditava que essa ação poderia gerar mudanças sociais (Ribeiro e Uvaldo, 2007).
Com a evolução da Psicologia no mundo, as abordagens teóricas e práticas que atravessam a orientação profissional foram evoluindo e se debruçando em novas questões. “Orientação vocacional”, “orientação ocupacional”, “orientação educacional” e “orientação profissional (e de carreira)” são os nomes dado a esse processo. Alguns autores usam “orientação profissional” e “orientação vocacional” como sinônimos, enquanto outros pontuam mudanças a respeito do foco do processo (Melo-Silva, Lassance e Soares, 2004).
O significado de orientação consiste em “ato ou arte de orientar(-se)” (Ferreira, 1986, p. 1232). A definição sugere a possibilidade da orientação por profissionais, e da própria pessoa se orientar, reforçando a ideia da escolha por si mesma.
Dentro de uma perspectiva psicológica, “orientação profissional” significa a ajuda prestada a um sujeito, visando à solução de problemas relativos à escolha profissional, analisando as características individuais e do mercado de trabalho (Melo-Silva, Lassance e Soares, 2004).
Dentro de um contexto de intervenção, a OP tem como objetivo trabalhar o momento da escolha, a inserção no mercado de trabalho e em uma profissão, e o planejamento de carreira, tendo um olhar psicossocial sobre o sujeito. Além disso, a orientação pode ocorrer dentro de diversos contexto, sendo de forma coletiva, em grupos ou individual (Ribeiro, 2011).
No período anterior à metade do século XX, houve um grande desenvolvimento de testes psicológicos para serem utilizados no contexto da orientação profissional, influenciado pela psicometria e pela teoria do Traço e Fator. O foco do trabalho era o ajustamento de pessoas a funções.
Com as mudanças sociais e com a evolução da psicologia, novas formas de entender e estruturar o processo da OP surgiram. Um exemplo seria a estratégia clínica, proposta pelo psicólogo argentino Rodolfo Bohoslavsky, na qual os testes perderam o papel central e se tornaram uma ferramenta de levantamento de informações, tendo seus resultados integrados com outras experiências (Ambiel, 2010).
Os testes atualmente servem de ferramenta para o processo de OP, auxiliando a investigação de aspectos individuais e variáveis voltadas para a carreira. Além dos testes, outras ferramentas podem ser utilizadas, como escalas, dinâmicas, jogos e entrevistas.
Entre as escalas, temos a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional (EMEP), que tem como objetivo avaliar a maturidade para escolha profissional e identificar quais aspectos estão mais e menos desenvolvidos.
No campo das avalições, a Avaliação dos Interesses Profissionais (AIP) é instrumento que tem como objetivo avaliar os interesses profissionais do jovem, auxiliando na descoberta de campos do conhecimento de preferência, sendo uma ótima ferramenta de investigação sobre as inclinações do sujeito.
Uma variedade de outros testes podem ser aplicados, como os de personalidade e de exploração dos aspectos cognitivos. Contudo, é vital enfatizar que certos testes são restritos ao uso exclusivo de profissionais da Psicologia, garantindo uma análise ética e especializada.Parte superior do formulário
Entre os testes não privativos, temos o Critérios para Escolhas Profissionais, que visa promover a capacidade de decisão e desenvolver a identidade profissional, e o Teste das Dinâmicas Profissionais, que busca identificar os interesses e preferências profissionais do sujeito.
Entre outros instrumentos que são utilizados nesse contexto, temos a técnica “Como Escolho Escolher”, que busca identificar os padrões de tomada de decisão relacionando os mecanismos com o âmbito profissional. Atividades de informação profissional e autoconhecimento também são utilizadas para auxiliar no levantamento de informações e intervenções.
Estamos inseridos em uma sociedade que exalta a ideia de produção, criando assim, uma gama de especialidades que direciona os jovens desde muito cedo a pensar sobre a escolha profissional. Por estarem diante de várias opções (e de nem tantas informações), no momento da decisão, o jovem pode se confundir e apresentar dificuldades (Costa Junio, 2020).
Nesse contexto atual, independente da prática de intervenção, técnicas, ou da abordagem que baseia o processo, a OP se torna essencial, tanto nos âmbitos coletivos, como individual, clínico ou institucional, para auxiliar o sujeito a entender as questões que existem em torno da escolha profissional, do planejamento de uma carreira e a desenvolver uma análise do cenário econômico onde estará inserido.
Lubieska Saleme Nogueira
Psicóloga, Pós-Graduada em Psicologia Jurídica e Avaliação Psicológica.
Psicóloga clínica e docente do curso de Psicologia da Associação de Ensino e Cultura do Mato Grosso do Sul (AEMS).
Referências
Junio, O. M. C. (2020). Orientação Vocacional: Teoria e Prática (. 14, n. 50, pp. 643-655). Rev. Mult. Psic.
Ribeiro, M. A. (2004). Orientação profissional: Uma proposta de guia terminológico. In M. A. Ribeiro & L. L. Melo-Silva (Orgs.), Compêndio de orientação profissional e de carreira: Perspectivas históricas e enfoques teóricos clássicos e modernos (v. 1, pp. 23-66). Vetor Editora.
Ribeiro, M. A., Uvaldo, M. C. C.(2007). Frank Parsons: trajetória do pioneiro da orientaçãovocacional, profissional e de carreira (v. 8, n. 1, pp. 19-31). Revista Brasileira de Orientação Profissional.
Sparta, M. (2003). O desenvolvimento da orientação profissional no Brasil. Revista Brasileira de Orientação Profissional (v. 4, n. 1-2, pp. 1-11).
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