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O efeito do humor nas organizações

por Andre Arantes, especialista em criatividade e produtividade, master coach, stand up corporativo, palestrante e escritor, CEO da Fomos e Somos consultoria em desenvolvimento humano.

Emojis em formato 3D com expressão sorridente.

Parte I – “Rir pode ser a melhor Vitamina”

Terminou a reunião que durou mais de dez horas e eu estava cansado, mas ao mesmo tempo um tanto quanto ansioso, pois eu acabava de entrar naquela empresa e era minha primeira reunião de equipe. Nós éramos em doze gerentes e mais um superintendente, um diretor e a secretária.

O motivo pelo qual a reunião tinha sido estressante era porque estavam presentes todos os regionais do Brasil e para justificar o alto custo de mobilização, tratávamos de inúmeros temas de uma única vez.

Ela acontecia uma vez por semestre. Cheguei na empresa dois dias antes e lá estava eu.
Falamos de muitos assuntos nesta reunião. Desde o tipo de malotes que seriam usados para transportar os contratos dos clientes, da construção do orçamento anual da empresa, da contratação e desligamento dos funcionários da empresa e muito mais. Tudo foi muito intenso, denso e participativo. A reunião parecia não ter fim.

Mas, terminando a reunião, lá pelas 21 horas e lá vai pedrada, ouço a voz do meu chefe (também chamado André), me perguntar: “E aí, Arantes, o que achou?”

Pensei: “Como assim, o que achou? Do quê? Qual parte das centenas de falas, desde às 08 da manhã, qual parte será que ele queria minha opinião?”

Era uma grande chance de eu causar uma primeira boa impressão aos meus pares e principalmente à minha diretoria.

Não hesitei: “Bom, foram muitos assuntos, mas vejo que estamos bem encaminhados com as soluções propostas, mas quero deixar uma coisa bem clara aqui para todos”. (Dei uma pausa e completei) “Eu vim aqui para trabalhar e não para fazer amigos”.

Um silêncio se instalou na sala. Por milésimos de segundos, vi a troca de olhares entre aqueles que seriam meus pares e que ainda não me conheciam. Um olhar de indignação com um semblante perturbado diante de uma conduta tão inóspita e extremamente rude e grosseira.

De repente, um amigo meu (o único que eu conhecia que inclusive foi quem havia me indicado para a nova empresa, deu uma risada em voz alta e disse “(risos)… ele está brincando, vocês não conhecem o Arantes”.

Depois disso, soltei o riso e corrigi minha fala: “Eu estava brincando, vocês falaram tantas coisas sérias que eu não tinha como competir. Resolvi quebrar o gelo, com uma fala eloquente para melhorar o clima para nosso jantar”.

Foi só risos e abraços.

Parecia que eu já os conhecia há anos e nem preciso dizer que não só o jantar bem como a minha receptividade na equipe foi para lá de sensacional.

Eu acabei trabalhando muito, mas também fiz grandes amigos que já ultrapassam os 20 anos de convivência.

 

Parte II – Humor e suas origens

Humor é uma palavra que se origina do latim “humor–oris” e que originalmente significava: líquido contido num corpo organizado ou cada um dos quatro principais fluídos do corpo que se julgavam determinantes das condições físicas e mentais do indivíduo. No século XV, influenciada pela palavra inglesa humour, passou para a forma como hoje conhecemos – boa disposição do espírito, veia cômica, ironia.

O bom humor comprovadamente produz fluidos, hormônios que estimulam nosso corpo. São as endorfinas, responsáveis pelo equilíbrio e bem-estar do organismo. Notem que as pessoas “bem-humoradas” são aquelas que dificilmente adoecem. Estão sempre aptas a doar alegria para alguém, estão sempre cercadas por pessoas alegres e conseguem resolver problemas com muita tranquilidade e calma, pois preferem entrar no “campo da solução” ao invés de ficarem sentadas em cima do “campo dos problemas”.

Elas parecem ter “sorte” na vida e conseguem sucesso de uma forma toda especial e vivem intensamente cada momento.

Não que não exista na vida delas, tristeza, chateação, mágoas, ansiedade e outros tantos sentimentos comuns da vida dos seres humanos. Mas seus comportamentos diferem na questão da visão positiva das coisas.

Elas são capazes de rir de si mesmas e superam seus erros mais rapidamente que os “mal-humorados”.

Produzem sempre uma sensação de bem-estar e evitam as catástrofes, desgraças ou noticiários negativos.

Não temem ficar sozinhos, mas muito pelo contrário, aproveitam estes momentos para praticarem o ócio criativo.

O humor é um componente usual da interação entre pessoas, impactando diversos tipos de relações sociais, nos mais variados âmbitos.

Mais recentemente, tem sido tópico de interesse de investigação, para se assumir como uma ferramenta imprescindível no que concerne à gestão de uma organização e, igualmente, como um elemento aplicado para atingir diversos objetivos.

 

“O Humor abre portas e elimina as travas que a seriedade cognitiva, por si só, nem as vê.”
Andre Arantes

Parte III – Humor como ferramenta de gestão

Em um estudo realizado pelo Instituto Paulista de Magistrado (IPAM ), coordenado pela supervisora de investigação em mestrado, Patrícia Araújo, com suporte da mestre em Gestão de Marketing pelo IPAM, Marcia Nascimento e colaboração de Alexandra Araújo, cossupervisora de Investigação do mestrado na IPAM, sobre os estilos de humor nos gestores, constatou-se que de fato existe uma relação direta entre a utilização desse valor (humor) e o grau de satisfação e felicidade no contexto corporativo.

O estudo foi realizado com 101 pessoas em cargos de gestão e constatou-se que o tipo de humor mais utilizado no Brasil é o denominado “Humor Autorrealçador”, que possui a característica de quem mantém uma visão bem-humorada sobre a vida e que utiliza o humor para lidar com o estresse e a pressão no trabalho”.

A pergunta feita foi: “será que os gestores estão preparados para agir com humor no meio de uma crise?”.

Nos últimos meses, devido ao contexto da pandemia, a realidade mudou bruscamente e as organizações foram obrigadas a adaptar-se, de uma forma imediata. Este é, sem dúvida, um novo desafio para os gestores brasileiros, que podem não estar preparados para motivar e incentivar os seus colaboradores numa fase tão incerta como a atual.

O estudo procurou compreender, especificamente, os principais estilos de humor nos gestores brasileiros em plena “crise organizacional”, usando os trabalhos e instrumentos do Professor Rod Martin, professor na University of Western Ontario (EUA) e autor da obra fundamental Psicologia do Humor.

Outro estilo de humor muito aclamado entre os gestores brasileiros é o “Humor Afiliativo”, a tendência a compartilhar humor com outras pessoas, contar piadas e histórias engraçadas e divertir os outros.

Foram ainda identificados alguns exemplos de “Humor Autodestrutivo”, presente em gestores com sentimentos de insegurança laboral e menor percepção sobre o cargo que exercem, o que significa que quanto mais satisfeitos estejam os colaboradores com o seu cargo de gestor, mais seguros se sentem em relação ao seu próprio emprego, em período de crise.

Outra conclusão interessante desse estudo prende-se com o fato de, dos quatro estilos de humor descritos pelas investigações anteriores (autorrealçador, afiliativo, agressivo e autodestrutivo), não terem sido encontrados nesta amostra exemplos de “Humor Agressivo”, ou seja, o tipo de humor caracterizado por depreciar e manipular os outros.

Esta premissa representa, de certa forma, uma ótima notícia, já que podemos induzir que os gestores brasileiros não recorrem a essa tipologia.

Assim, o humor pode e deve ser uma das estratégias do futuro para os Recursos Humanos captarem talento.

E esta premissa tem ainda mais importância quando nos dirigimos à Geração Z, os techs, inovadores, empreendedores e pragmáticos. Esta geração procura organizações com as quais se identificam, com um forte employer branding, e que apostam num clima organizacional positivo e na evolução de carreira.

Este último ponto é particularmente relevante, pois a Geração Z já não vê o emprego como um trabalho apenas, mas, sim, como uma extensão da vida pessoal e uma experiência.

Por fim, a investigação em humor organizacional é uma fantástica área de fusão científica, que abraça a psicologia, o marketing interno, a gestão, o comportamento organizacional e, por isso, representa também o futuro do sucesso das organizações: quando todas as áreas se unem para fazer emergir novas soluções e abordagens.

Segundo Susan Fisher (investigadora do processo de felicidade organizacional) esta matéria, o humor nas organizações é de extrema importância para proporcionar um ambiente favorável e promover o sentimento de satisfação pessoal nos colaboradores, que acabam exercendo suas funções com mais criatividade, mais qualidade e com aumento de produtividade.

Em paralelo a características como a liderança e a empatia, o humor desempenha um papel basilar, pois melhora o bem-estar psicológico dos indivíduos e facilita as relações interpessoais.

 

A verdade é que as organizações sabem que é imprescindível investir em novas ferramentas mais direcionadas a felicidade, bem-estar e valorização dos colaboradores, por meio de uma comunicação divertida e capaz de criar emoções positivas. O uso do humor, por gestores e diretores, é visto como um recurso consistente e eficaz para motivar, incentivar e envolver os colaboradores com as tarefas diárias. Desse modo, é útil que as organizações compreendam e identifiquem os estilos de humor que os seus gestores estão adotando na gestão dos colaboradores.

 

Mas como promover e/ou incrementar o humor nas organizações?

  1. Suspenda qualquer tipo de julgamento;
  2. Estimule a criatividade entre os colaboradores, em conjunto ou sozinhos;
  3. Crie ambientes favoráveis para o encontro descontraído entre as pessoas;
  4. Adote diferentes formatos para as reuniões entre as equipes (ex.: Stand Up Corporativo);
  5. Trabalhe na melhoria contínua dos processos de comunicação entre as equipes;
  6. Crie uma agenda para o ócio criativo coletivo.

 

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