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Dicas de Leitura

O Ideal: Um estudo psicanalítico

por Carlos Eduardo Bovenzo Filho

Capa do livro O Ideal: Um estudo psicanalítico

Livro: O Ideal: Um estudo psicanalítico

Capa do livro O Ideal: Um estudo psicanalítico - livroA obra intitulada O Ideal: Um estudo psicanalítico, de Helenice Oliveira Rocha, foi publicada em 2012 pela Vetor Editora e cumpre, em termos de linguagem, o que é proposto pelo seu título: o discorrer de um estudo, estabelecido por meio de um diálogo com o leitor, de modo que o caminhar sobre as amplas conceituações psicanalíticas cá abordadas se faça de forma clara, sem dispensar o rigor e empenho para a sua compreensão.

Logo na introdução, a autora deixa claro o propósito de seu trabalho – o qual não é trazer considerações conclusivas e que fechem o assunto, mas, sim, enovelar e fomentar, por meio das ideias expressadas, futuras discussões e reflexões no campo da psicanálise. Isso, sem dúvidas, é algo que traz à clínica psicanalítica um condão produtivo, uma vez que o conhecimento em psicanálise é fecundado e, aos poucos, concebido, após cada sessão de atendimento.

Introduzido esse caráter importante da obra, partindo para o primeiro capítulo, O ideal: suas condições e pressupostos no campo freudiano, Rocha (2012) abre espaço para as importantes considerações acerca do desamparo enquanto vivência intensa, presente já na tenra idade e que necessita da continência e acolhimento do outro.

Por meio das considerações iniciais, a autora proporciona um cenário para a compreensão da idealidade enquanto “uma tensão entre o dado e o esperado” (p. 21) que de forma reeditada acompanhará o sujeito ao longo de sua vida, estando este sempre em busca de algo que preencha o seu vazio, no âmbito simbólico.

 

Capítulo II

No capítulo 2, intitulado O Espaço Original: desamparo e alucinação, a autora dá continuidade em suas considerações sobre o desamparo na teoria freudiana, concatenando, agora, a alucinação enquanto uma forma que o bebê encontra de saciar suas necessidades primitivas, em termos de desejo enquanto moção psíquica, visando à revivescência de um estado prazeroso ou de satisfação (Laplanche & Pontalis, 2001). Por fim, considerando a importância da relação mãe x bebê e a sua magnitude para a formação do ego, a autora evidencia considerações de teóricos como Klein, Bion e Winnicott.

Dando procedência aos moldes da idealidade, em A Emergência do Eu, a autora traz à luz da teoria freudiana a relação entre ego ideal e ego real, a qual – por meio de sucessivos investimentos narcísicos e o reconhecimento do objeto (não eu) – se torna sine qua non para a formação futura de um ego que, construído à sombra do eu ideal (p. 51), seja mediador das exigências pulsionais e da realidade externa.

 

Capítulo IV

No quarto capítulo, As Protofantasias e as Teorias Sexuais Infantis constituindo os respectivos planos, geral e restrito, do projeto do ideal do sujeito, a autora salienta a importância das fantasias primitivas em termos de constituição e construção do sujeito enquanto ser separado de seu objeto, mostrando agora um novo plano de idealidade: a tentativa, por meio do complexo de Édipo, em recuperar o estado de quietude ou, como explicou Freud (1920), o princípio do Nirvana (expressão de Barbara Low) – […] “esforço para reduzir, manter constante ou para remover a tensão interna devida aos estímulos” […] (p. 64).

Em Ideal, Narcisismo e Superego, Rocha (2012) promove, envolvendo a segunda tópica, sucessivas discussões sobre o complexo aspecto discriminativo (teórico) de ego ideal, ideal de ego e superego, bem como a importância dessa dinâmica que salvaguarda a dialética “união x separação” objetal e que, dessa forma, exerce papel importante na constituição e construção do sujeito.

Referente ao sexto capítulo, Ideal, Sujeito e Cultura, a autora, citando importantes trabalhos de Freud, como Mal-estar na Civilização, Moisés e o Monoteísmo, Psicologia de Grupo e a Análise do ego, proporciona a articulação do ideal voltado às questões culturais, considerando-o como importante elemento para “a compreensão dos laços entre os indivíduos de um grupo” (p. 84). Ou seja, esse capítulo permite a elucidação e articulação “sujeito e cultura” quando se trata de ideais, uma vez que é na própria constituição e construção do sujeito, por meio dos moldes do desamparo, que o ideal se fará presente e, daí em diante, enovelará, em diferentes graus, as relações do indivíduo com o outro.

 

Capítulo VII e considerações finais O Ideal: Um estudo psicanalítico

No sétimo capítulo, intitulado Nos confins do Ideal: Identificação, Sublimação e Crueldade, por meio de uma indagação inicial, que diz respeito à tomada do sujeito pelo ideal e o sofrimento enquanto produto dessa dinâmica, Rocha (2012) tece considerações sobre o enlace do próprio ideal em relação a identificação, sublimação e crueldade enquanto condição econômica presente desde os primórdios da vida psíquica, possibilitando pontos de reflexões acerca dos desdobramentos, em termos de trocas/relações com o objeto ao longo da existência do sujeito.

Nas Considerações finais da obra, Rocha (2012) retoma, de maneira pontual, as principais ideias abordadas em cada capítulo. Nesse momento, a autora traz um fechamento condizente à sua proposta, evidenciando uma característica marcante de seu trabalho: O não fechamento do assunto sobre o Ideal, mostrando ao leitor a infindável ramificação reflexiva acerca das compreensões em psicanálise. Desse modo, é uma obra que – (logicamente) apesar de possuir uma finitude material (limites de páginas), aquilo que é expressado por ela – se torna algo imensurável: motivar o leitor à constante busca, reflexão e atualização do pensamento na clínica psicanalítica.

Carlos Eduardo Bovenzo Filho 

Psicólogo pela Universidade Guarulhos (CRP 06/148842). Técnico pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Violência – Psicologia Jurídica (NUPEV-PJ, Universidade Guarulhos) e do Núcleo de Estudos em Psicologia (NEPSI, Universidade Guarulhos). Atualmente é Colaborador do Departamento de Produtos e Pesquisa da Vetor Editora.

Referências

Freud, S. (1996). Além do princípio de prazer (1920). In S. Freud. Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos (1920-1922). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, v. XVIII)

Laplanche, J; Pontalis, J. B. (2001). Vocabulário da Psicanálise. 4ª ed. São Paulo, SP: Martins Fontes.

Rocha, H. O. (2012). O Ideal: Um estudo psicanalítico. São Paulo, SP: Vetor.

 

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1 Comment

  1. Fabio Correa

    Ótimo livro, excelente tema. Parabéns Vetor!!

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