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Avaliação dos distúrbios adquiridos da linguagem

por Karin Zazo Ortiz

Jovem com as duas mãos cobrindo a boca.

A linguagem é uma função cognitiva extremamente complexa. Por meio da linguagem, podemos nos comunicar com as outras pessoas, entender e codificar mensagens, ler e escrever, entre muitas outras tarefas das quais a linguagem também participa.

E por ser uma função cognitiva tão complexa, a avaliação da linguagem precisa ser extremamente detalhada e minuciosa. Também é fundamental considerarmos em que momento a avaliação da linguagem é feita: na infância, na adolescência, na fase adulta ou na senescência.

Um fato que deve ser um divisor de águas é a questão da diferenciação entre distúrbios que ocorrem durante a aquisição da linguagem e os distúrbios adquiridos, ou seja, distúrbios que ocorrem na fase adulta ou em idosos.

Nesta população específica, muitos aspectos precisam ser considerados, pois pode-se pensar que todo o conhecimento e todas as experiências acumuladas ao longo da vida fazem parte da linguagem do indivíduo.

Do mesmo modo, e também como toda e qualquer função cognitiva, a linguagem, em sua abrangência, sofre a interferência da escolaridade e da idade. Sabemos, no entanto, que não é apenas a escolaridade que pode modificar o perfil linguístico.

Os hábitos de leitura e de escrita, bem como as demandas cognitivas impostas pelas diversas tarefas e funções que exercemos ao longo da vida podem potencializar as habilidades linguísticas.

Especificamente para a população de adultos e idosos, faz-se necessário considerar todo o histórico de vida do indivíduo na avaliação, e é importante definir e tomar por base parâmetros que possam auxiliar a identificar com clareza alterações que podem ocorrer na decodificação ou compreensão da linguagem oral (mensagens ouvidas), na leitura e na sua compreensão, na escrita e, especialmente, na emissão das mensagens, ideias, pensamentos e emoções através da fala.

A linguagem oral tem diversos níveis de processamento: fonético, fonológico, lexical, sintáxico, semântico, pragmático e discursivo, que precisam ser analisados quanto à decodificação (compreensão) e quanto à codificação (emissão). O mesmo ocorre na linguagem escrita, em que, do mesmo modo, faz-se necessário investigar o processamento grafêmico, lexical, sintáxico, semântico, pragmático e discursivo.

Para a avaliação de linguagem de indivíduos adultos e idosos que sofreram algum insulto cerebral e apresentam alterações, pode-se optar por procedimentos formais ou informais de avaliação.

Definimos a avaliação informal como procedimentos criados livremente, com base naquilo que queremos avaliar ou investigar em nossos pacientes.

São especialmente úteis em casos de distúrbios extremamente graves, em que os pacientes não conseguem responder aos testes formais. Nestes casos, podemos usar objetos familiares, fotos, entre outros materiais, para facilitar a resposta do paciente.

Por outro lado, definimos avaliação formal instrumentos fechados ou testes que apresentam um número de estímulos em diferentes tarefas e que devem ser rigorosamente aplicados e analisados conforme as normas descritas pelos autores nesses instrumentos. Têm várias vantagens e são extremamente indicados a todos os casos que apresentem condições clínicas de responder a tais procedimentos.

O primeiro aspecto fundamental é a possibilidade de identificarmos, objetivamente, todos os déficits linguísticos que o paciente apresenta em comparação com as respostas obtidas e os dados normativos, considerando-se fatores como idade e escolaridade. Essa comparação também permite a identificação da gravidade dos déficits encontrados.

Outra grande vantagem, especialmente em casos crônicos, é a possibilidade de teste-reteste de forma objetiva. Isso permite que, longitudinalmente, acompanhemos um mesmo paciente e observemos sua evolução, não apenas por meio da “impressão subjetiva” da melhora e/ou piora (nos casos de doenças neurodegenerativas).

A Bateria Montreal Toulouse de Avaliação da Linguagem (Bateria MTL-BR)(Parente et al., 2016) é a única bateria de avaliação de linguagem com dados normativos para adultos e idosos publicada no Brasil. Ela é composta de uma vasta gama de tarefas para avaliação da compreensão oral, emissão oral, leitura e escrita.

Banner com a capa da coleção MTL - Brasil

Os dados normativos que podem ser encontrados no Manual de Aplicação foram obtidos com a avaliação de indivíduos reunidos em faixas de escolaridade (5a 8 anos; 9a 12 anos e mais de 12 anos de estudo) e com idades variando entre 19 e 75 anos.

Estudos mais recentes, no entanto, apresentaram dados para indivíduos com baixa escolaridade (Akashi & Ortiz, 2018) e com analfabetos (Pereira &Ortiz, 2022). Observou-se que, mesmo na baixa escolaridade, a MTL-BR é capaz de distinguir o efeito da idade e da escolaridade no perfil de respostas de pessoas com afasia (Medeiros & Ortiz, 2021).

Estudos também vêm sendo realizados para verificar o efeito do envelhecimento normal em idosos com mais de 75 anos, nos processamentos linguísticos avaliados pela Bateria MTL-BR. Tais estudos são úteis para a diferenciação entre senilidade e senescência no que tange à linguagem.

Quanto maior é o conhecimento acerca da linguagem normal, independentemente da fase da vida, mais apto o clínico estará para realizar um diagnóstico preciso, uma intervenção precoce e eficaz ao paciente.

Referências

Akashi, D. A., & Ortiz, K. Z. (2018). Formal language assessment in low-educated healthy subjects. Dementia &Neuropsychologia, 12(3), 284-291. https://doi.org/10.1590/1980-57642018dn12-030009

Medeiros, N. M., & Ortiz, K. Z. (2021). Formal language assessment in low-educated persons with aphasia: Can lesion effect be discriminated from educational effect? Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 80, 125-128.

Parente, M. A. M. P., Fonseca, R. P., Pagliarin, K. C., Barreto, S. S., Soares-Ishigaki, E. C. S., Hübner, L. C., … Ortiz, K. Z. (2016). Bateria MTL-Brasil: Bateria MontrealToulouse de avaliação de linguagem. São Paulo: VetorEditora.

Pereira, A.,&Ortiz, K.Z. (2022). Language skills differences between adults without formal education and low formal education. Psicologia: Reflexão e Crítica,35.https://doi.org/10.1186/s41155-021-00205-9

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