Entrevista com Hildicéia dos Santos Affonso
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Para muitas pessoas, a avaliação psicológica em concursos públicos pode ser um processo misterioso. Você poderia explicar brevemente qual é o objetivo fundamental dessa avaliação?
O objetivo principal da avaliação psicológica em concursos públicos é avaliar se os candidatos possuem as características psicológicas necessárias para o cargo em questão.
Isso inclui a análise de aspectos cognitivos (atenção, memória, funções executivas e raciocínio/inteligência), traços de personalidade, habilidades sociais, aspectos emocionais além da capacidade de lidar com situações específicas relacionadas à função pública. Além disso, um dos principais objetivos é a garantia de equidade e a justiça no processo de seleção.
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Como os testes e métodos de avaliação psicológica são escolhidos para atender às necessidades específicas de um concurso público?
A escolha dos testes e métodos de avaliação depende muito do cargo em questão. Geralmente, começamos com uma análise das competências e habilidades necessárias para desempenhar o trabalho, considerando o perfil e descrição do cargo publicado no edital do concurso.
Com base nestes aspectos, são escolhidos os testes que melhor avaliam as habilidades cognitivas, aspectos de personalidade e de comportamento descritos no edital. É fundamental que os instrumentos sejam validados e confiáveis para a população-alvo. Em seguida são estabelecidos critérios claros para a avaliação dos candidatos.
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Manter a justiça e a imparcialidade é crucial. Como você lida com a necessidade de garantir que as avaliações sejam justas e imparciais para candidatos de diferentes escolaridades e regiões do país?
Um dos princípios fundamentais em avaliações psicológicas é a igualdade de oportunidades. Para garantir a justiça e imparcialidade, é necessário verificar se a bateria de testes escolhida é culturalmente sensível, e se os testes são validados para diferentes grupos.
O critério utilizado para estes casos é a utilização da tabela de amostra geral que atinge todos os grupos de forma igualitária. Ressalta-se a importância de garantir que a equipe de avaliadores receba treinamentos adequados para minimizar qualquer viés implícito em suas avaliações.
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Como você determina a adequação do candidato na etapa da avaliação psicológica para um cargo público específico?
Os resultados das avaliações são comparados com critérios previamente estabelecidos para a adequação psicológica, considerando o perfil do cargo publicado e determinado pelo edital e a Resolução do CFP 02/2016 que normatiza a avaliação psicológica para concursos públicos. Esses critérios são baseados nas necessidades do cargo e nas características identificadas na análise inicial, por isto a resolução do CFP 002/2016 ressalta a necessidade de o psicólogo participar da elaboração do edital do concurso.
Após o processo de aplicação, e equipe de psicólogos avalia se o candidato possui traços de personalidade e de comportamento e habilidades cognitivas que se alinham com as necessidades do cargo, como a estabilidade emocional, a capacidade de tomar decisões racionais, processos atencionais e outros fatores relevantes com a função/cargo do concurso.
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Como você comunica os resultados das avaliações aos candidatos, especialmente quando os resultados são de não recomendação ou inapto?
Comunicar resultados de não recomendação ou inapto é uma parte delicada do processo. Priorizamos a comunicação sensível e construtiva. Sempre fornecemos feedback detalhado, destacando áreas relacionadas a não recomendação ou inaptidão. É importante que os candidatos compreendam que a avaliação não reflete seu valor como pessoa, mas sim sua adequação para o cargo específico, conforme descrição do perfil do cargo.
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O que um(a) psicólogo(a), ao acompanhar um candidato, pode fazer em uma devolutiva de não recomendação e ou inaptidão?
Primeiramente, o psicólogo deve possuir experiência na área de avaliação psicológica, a seguir, durante a devolutiva deve analisar se os resultados estão coerentes com o laudo entregue, podendo este profissional copiar manualmente os resultados para posteriormente conferência.
Após este momento, o psicólogo deve ler o edital e analisar se o que avaliado contempla o publicado no edital e, a partir deste momento, fazer a defesa do candidato frente aos dados. Ressalto que equivocamente muitos psicólogos reaplicam a bateria e afirmam que na sua avaliação o candidato está apto/recomendado, está atitude do profissional demostra o desconhecimento de um processo de seleção pública, na qual os todos os candidatos são avaliados em uma mesma condição, reforçando o princípio da isonomia.
Em caso de reavaliação em um contexto diferente, o princípio da isonomia se perde.
Hildicéia dos Santos Affonso
Possui graduação em Psicologia pela Faculdade de Humanidades Pedro II (1996) – Rio de Janeiro/RJ. Especialista em Docência Superior e Mestre em Administração pela FUCAPE. Atualmente é professora da e Coordenado do curso de Psicologia da Universidade de Vila Velha (UVV). Detém experiência na área de Psicologia, com ênfase em avaliação psicológica, psicologia jurídica e psicoterapia breve focal.
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