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O entendimento de crianças sobre a morte

por Jorge Henrique Corrêa dos Santos

Duas mulheres adultas e um garoto. Todos com vestes pretas e uma flor branca nas mãos. Pessoas em estado de luto.

Quando falamos sobre a compreensão de crianças sobre a morte, usamos o preceito de que é necessário o domínio de quatro conceitos: irreversibilidade, não funcionalidade, universalidade e causalidade.

Outro conceito, a inevitabilidade, também é usado por alguns autores, mas não é tão aceita quanto os outros quatro.

A Irreversibilidade é relativa ao fato de que, uma vez que um ser vivo morre, ele não pode retornar a vida. A Não Funcionalidade diz respeito ao entendimento de que, uma vez que algo morre, há a cessação do seu funcionamento biológico (coração para de bater, os pulmões não puxam mais ar etc.).

Universalidade é ligada ao entendimento de que todos os seres vivos morrem. A Causalidade é o entendimento de que a morte é causada por fatores internos ou externos, e a Inevitabilidade diz respeito ao entendimento de que nada é possível de se fazer para evitar a morte.

Entende-se que o caminho para uma compreensão completa da morte passa por cada um desses conceitos.

A divisão mais comum de aquisição dos quatro conceitos (Irreversibilidade, Não Funcionalidade, Universalidade e Causalidade) é por idade, sendo a divisão feita em três estágios: o primeiro estágio, de 2 a 5 anos de idade, em que a criança não consegue diferenciar vida e morte como estados, e não consegue entender a irreversibilidade da morte.

No segundo estágio, de 5 a 9 anos, a criança consegue entender que vida e morte são estados diferentes, mas também não como um estado irreversível. O último estágio, de 9 anos em diante, é caracterizado pela compreensão da morte como definitiva e inevitável.

O período de 9 a 11 anos é crítico para o desenvolvimento das dimensões, sendo nesse período que as mudanças no conceito geral de morte são mais evidentes. Esses estágios são ligados à idade, que é apenas um dos fatores ligados ao ganho dos conceitos sobre a morte. Entende-se que contato prévio com perdas, doença grave, habilidade cognitiva e cultura também influenciam na concepção dos quatro conceitos.

Na sociedade ocidental, a morte é tratada como um tabu, algo que não deve ser falado, que falar atrai e aqueles que trabalham diretamente com ela trazem mal agouro; quando se fala de morte com crianças, a resistência torna-se ainda maior.

Entender os conceitos necessários para que a criança entenda completamente o significado de morte é importante para podermos desenvolver um trabalho de acolhimento mais bem estruturado e ajustado à capacidade da criança de compreender a perda de uma pessoa amada. Entretanto, é importante que a capacidade de compreensão e as concepções sobre a morte sejam trabalhadas caso a caso e não usar os estágios existentes com uma rigidez pétrea.

A possibilidade de conversar com crianças sobre a morte e compreender seu significado pode ajudá-la a superar ideias equivocadas, como ser a culpada pela morte (fantasia comum na infância, quando ainda pode haver dificuldade de separar realidade de fantasia), por exemplo: “Fiquei muita brava com ele e depois ele morreu, morreu porque fiquei brava” ou “Quis que ele ficasse doente, pois estava triste com ele e ele morreu por isso”.

Auxiliar a criança a separar e a entender as suas fantasias e a se expressar pode ajudá-la a percorrer um processo de luto mais saudável. Além disso, a psicoeducação com os pais da criança é essencial.

Principalmente em razão de alguns sentimentos muito comuns que advêm com o luto, como raiva, não serem acolhidos, e muitas vezes serem tratados pelos cuidadores como algo ruim, chegando a vias de repreenderem a criança por sentirem o que sentem.

Para crianças maiores de 11 anos e para pais é possível a utilização do Baralho “Conversando Sobre Luto e Ressignificando Perdas”, material que, além de contar com cartas interventivas, contém cartas informativas.

Diante do exposto, o mais importante, além da teoria, é ter a disposição de estar junto com a criança para conversar, estar disposto a estar junto na dor, a estar aberto a perguntas difíceis e preparado para refletir junto com a criança. Estar com ela para ajudar a entender e nomear os sentimentos, e tornar o luto uma vivência natural, pela qual todos nós passaremos.

 

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Autor

Jorge Henrique Corrêa dos Santos. Psicólogo com Especialização em Psicologia da Saúde pela Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto. Especialização em Educação pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP). Cocoordenador do Grupo LUTE – Lutos e Terminalidades, grupo de pesquisa e intervenção em luto da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto.

Referências

Fernández-Alcántara, M., Los Santos-Roig, M., Pérez-Marfil, M. N., Cruz-Quintana, F., Vázquez-Sánchez, J. M., & Montoya-Juárez, R. (2021). A new instrument to assess children’s understanding of death: Psychometrical properties of the EsCoMu scale in a sample of Spanish children. Children, 8(2), 125.

Hunter, S. B., & Smith, D. E. (2008). Predictors of children’s understandings of death: Age, cognitive ability, death experience and maternal communicative competence. OMEGA – Journal of Death and Dying, 57(2), 143-162.

Torres, W. D. C. (1996). A criança diante da morte. Arquivos Brasileiros de Psicologia (Rio J. 1979), 48(1), 31-42.

Vázquez-Sánchez, J. M., Fernández-Alcántara, M., García-Caro, M. P., Cabañero-Martínez, M. J., Martí-García, C., & Montoya-Juárez, R. (2019). The concept of death in children aged from 9 to 11 years: Evidence through inductive and deductive analysis of drawings. Death Studies, 43(8), 467-477.

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