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Regras do Jogo

por Ms. João Paulo Martins

Cartas de baralho caindo sobre uma mesa.Há uma séria discussão em torno de como e quando a vida começa. Inclusive, se formos pensar nisso, cabe a questão do que é a vida, mas esta não é a temática deste post. Contudo, há uma questão pertinente que acompanha a vida desde quando ela começa: a regra.

O jogo da vida começa distribuindo as cartas de maneira não satisfatória e com uma tendência a burlar o senso de justiça. Em outras palavras, ele começa roubando e beneficiando uns em detrimento de outros. Isso significa que algumas pessoas, logo quando nascem, ganham um manual de conduta e o encarte de como jogar o jogo.

Essa não é uma verdade para todas as pessoas. Quando não recebe o manual de instruções, você não sabe o que fazer, quando fazer, como nem por quê. Há uma aparente impressão de que o mundo solta e diz: “Vai!”. Nesse momento, é útil uma metáfora de Bauman, que diz que estamos sobre uma fina camada de gelo; se ficarmos parados, o gelo quebra e somos engolidos e, portanto, temos de correr, mas sem saber para onde… e quanto mais se corre, mais se escorrega. É mais ou menos assim viver no mundo do TEA.

Isso não significa que não queremos viver no mundo e não ter uma vida, uma vez que não haveria essa escapatória, mas não conseguimos entender as regras para jogar. Alguém, com uma leitura atenta, pode dizer: “mas é só alguém explicar as regras que aí o entendimento acontece”. Infelizmente, não é uma tarefa fácil, pois o mundo da vida é dinâmico, e as regras, às vezes, mudam sem aviso prévio.

Um exemplo torna-se necessário para maior e melhor elucidação. Quando pensamos em relacionamentos (abro aqui para relacionamento nos mais abrangentes vínculos, ou seja, relações maternas, paternas, conjugais, etc.). Parece vir junto com a palavra “relacionamento”, uma maneira correta de ação, um comportamento esperado, e isso já é praticamente uma extensão da palavra. Mas não é assim que acontece no TEA.

Quando tentamos nos relacionar com alguém, seria muito interessante que houvesse, junto com as pessoas, certa definição no conceito da relação e quais regras estariam presentes ali. Não há clareza, em um relacionamento “amoroso”, por exemplo, com as definições de ficar, ficar sério, sair, namorar, entre outras… A pergunta que fica é: qual a diferença conceitual e atitudinal entre tantas denominações atuais de relacionamento? O que fazer em cada uma dessas situações?

O resultado mais plausível que uma pessoa com TEA teria, caso não chegasse a uma definição em conjunto com a outra pessoa, é uma crise. Crise de ansiedade, crise de estresse… enfim, pois a cada momento do encontro a concretização de uma atitude passaria por uma análise interna, que acabaria por impedir a ação. Desde coisas ditas simples até coisas mais complexas. Desde a escolha de um lugar para comer em um domingo até a explanação de um sentimento.

As regras do jogo da vida não são claras, e é por esse motivo que os comportamentos de pessoas com TEA parecem estranhos aos olhos dos neurotípicos. Talvez seja por este motivo, também, que milhares de técnicas de adaptações de comportamento são propostas: para que nos encaixemos nos padrões (sem nos perguntar se é isso que queremos).

Parece que voltamos à Idade Média, quando a justificativa da caça às pessoas para serem levadas à guilhotina ou à fogueira era o amor (para que as pessoas pecadoras chegassem mais rápido à divindade, elas necessitariam de uma medida direta, ou seja, uma morte rápida, uma morte justificada pelo amor e pelo bem querer).

Atualmente, aos olhos das pessoas de bem, não se busca a morte em si, mas, com a mesma justificativa, “o amor a quem podemos ser”, e não a quem somos, há uma tentativa de nos deixarem “menos autistas” ou que isso venha a ser “suprimido” (uma busca de nos matar por amor).

Talvez o que queiramos seja somente ser quem somos como autistas e, nas relações que nos cabem, explicitar e construir o que podemos fazer, mas ainda como autistas, e não como neurotípicos. Por um aspecto estrutural, somos diferentes, e não menores, sendo que nos comportaremos de maneiras diferentes e, talvez, nunca entenderemos as regras do jogo da vida.

Ms. João Paulo Martins

Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Tem MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Graduado em Psicologia pela Universidade do Sagrado Coração (Unisagrado).

Docente da Cooperativa Educacional de Pederneiras, nas disciplinas de Filosofia e Sociologia, e das Faculdades Integradas de Bauru ministrando as disciplinas de Psicologia Social I, Psicologia Social II, Neuropsicologia e Teorias e Técnicas Psicoterápicas IV (Fenomenologia-Existencial).

Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Filosofia da Mente, Fenomenologia, Psicologia Social e Neuropsicologia, e tem como área de interesse a fenomenologia e suas interfaces e o transtorno do espectro autista (TEA).

 

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Coleção Protea - R - Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro AutistaColeção Protea – R – Sistema PROTEA-R de Avaliação do Transtorno do Espectro Autista

O Sistema está dividido em três eixos: (1) Entrevista de anamnese; (2) Protocolo de Avaliação Comportamental para Crianças com Suspeita de TEA – Versão Revisada – Não Verbal (PROTEA-R-NV); e (3) Entrevista devolutiva.

Tem por objetivo de rastreamento da presença de comportamentos inerentes à sintomatologia do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

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